Junte-se a mim, vamos para qualquer lugar.
Vamos
sentar numa mesa de bar e divagar sobre a vida, bem devagar, enquanto você bebe
cerveja e eu dispenso o guaraná, perguntando ao garçom se a Coca anda gelada
como o tempo ou quente como o casal ao lado. Vamos nos envergonhar pelos
outros, pelos beijos que dão ao ar livre e que deveriam ser trocados entre
quatro paredes, pelas palavras malditas, mal ditas ou não ditas, pelo preconceito
digno de pena, pela angústia desnecessária ou pela piada fora de hora – ou até
mesmo pela roupa excessivamente na moda, por que não?
Vamos
jogar na mesa nossos problemas, nossas aflições, bruxarias em forma de
burocracia que nos fazem engolir todo santo dia, segredos tão íntimos que nos
envergonham, mas que são ditos para arrancar comentários ou risadas entre nós,
pobres mortais, meros metais em uma banda de rock ministrada por surdos, ou
quem sabe por sambistas, ah, que a comparação não seja feita, nasça pronta.
Venha,
venha porque quero lhe presentear com um beijo, um cheiro, um disco, um livro,
uma palavra, um toque – ok, bem mais que um toque, talvez um número infinito de
toques que levem a um ato, a um fato, a qualquer coisa que nunca, jamais, em
hipótese alguma será qualquer. Pensando nisso, vamos tomar um café? Um café bem
forte, mas não muito quente, pois nossas línguas são os órgãos responsáveis
pelo funcionamento dessa nossa cooperativa: seja na fala ou na troca de tato,
se é que essa última expressão existe.
E
então, se o tédio bater e o assunto acabar, que se dane o bar; vamos ver o céu,
mas não pelo celular. Vamos subir no mais alto dos edifícios, onde a neblina
possa nos abençoar enquanto as luzes da cidade distraem os nossos olhos. E
então, no momento em que as palavras não mais farão falta, nossas mãos se
encontram; mais do que se encontram, se abraçam, se agarram, se unem – uma mão
só. A união dos corpos dá-se num encontro de mãos, que evolui para um encontro
de olhos, que evoluiu para uma troca de sorrisos, que evolui para uma troca de
palavras, que, dependendo da circunstância e do sentimento, pode evoluir para
uma troca de beijos. Não, beijos não se trocam. Beijos não são moedas. Beijos
são indescritíveis demais para caberem em qualquer definição.
E
se você se sentir incomodado, se por acaso achar que esse simples gesto
evolutivo representa um escândalo para a sociedade, aquieta-te; se as luzes se
incomodarem conosco, é só se apagarem. É até melhor.
O
convite está feito.
(Leonid Afremov)
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