terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Confusões


Ninguém sabe quando, onde ou como vai acontecer. A única coisa que sabemos é que acontece quando a gente menos espera.
               Um dia, a gente cresce.
           Ok, não acontece em um único dia. É um período longo, extenso e, porque não dizer, doloroso. A gente não cresce quando resolve brincar de ser adulto. A gente cresce quando a tal brincadeira vira coisa séria.
               Como crescer? Não, não é preciso subir em saltos ou pernas de pau, nem mesmo abusar dos hormônios de crescimento. Não é de altura que estou falando, acredite. É de uma coisa maior, mais louca e que faz menos – ou nenhum – sentido. É como se fôssemos esquecidos numa grande selva onde o maior perigo se esconde por trás de certo inseto... A confusão, aquela que ensurdece nossos ouvidos, que tem o poder de nos enlouquecer. Inofensiva como o ato de crescer em si. Como já disse, enlouquecedora.
               Dinheiro. Antes, a gente fazia birra pelo supérfluo. Até o momento em que a gente passa a dar tudo de si pra ter o básico, o indispensável. E mesmo assim, temos que lutar contra nossos impulsos. Porque no fundo, é como se nunca crescêssemos.
               Apaixonar-se... Pra quê? Simples: o amor é o brinquedo do momento. Aquele treco que você não acha em nenhuma loja – e por isso mesmo se torna tão especial... E trabalhoso. Porque quando dá defeito, não dá pra desligar ou trocar a pilha, nem vem com garantia ou assistência técnica. A gente não joga o amor no fundo do armário, nem dá pra uma criança carente. A gente tem que ficar com ele até fim – mesmo não tendo certeza se o bicho tem mesmo um fim. Mas de qualquer forma, é um brinquedo viciante; acredite, existem colecionadores. Mas existem aqueles que nunca se desfazem do primeiro... Talvez porque ainda reste bateria. E num passe de mágica, tem gente que sabe como recarregar.
               Sexo. Você veio dele. De repente, você o faz. Porque todo mundo faz. Porque todo mundo diz que é bom. Por que se você não fizer, ora, o que vai dizer pra esse tal de todo mundo? E se você não tiver vontade de fazer? E se quiser continuar sendo criança, brincando de amor que não tem mais pilha, tentando fugir dos insetos enquanto a selva gira ao seu redor? E se, de repente, você sentir vontade? E se quiser se jogar, se entregar, dane-se o resto, que se danem as crianças... Opa, cuidado: da mesma forma que você veio dele, outras crianças como você podem surgir.
               Dinheiro. Amor. Sexo. Amor. Dinheiro. Sexo. Amor. Dinheiro. O bordado da vida adulta e das responsabilidades. É como dançar um fado louco, como se jogar de um precipício, como dar ao mundo seu mais corajoso aviso: agora é com você - ambiguidade. Ganhar dinheiro, firmar-se no amor, compreender seu corpo. Será possível assinalar tantas coisas de uma vez na sua lista pessoal?
               De qualquer forma, não se esqueça do repelente. O que não quer dizer que você não será picado. 

 (Turhan Algan)

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