quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Para o imperdoável



Eu peço desculpas.
               Desculpe-me por ser tão ridiculamente ingênuo que me deixei cegar pelas milhares de coisas que fazem a roda do mundo girar mais lenta que o normal. Desculpe por não ser o santo que eu devia ser, por negligenciar seu modus operandis, por me deixar levar pelo otimismo exacerbado. Eu sei, foi ato falho. Desses que custa nosso perdão – ou a falta dele.
               Perdão também por não conseguir olhar no fundo dos seus olhos, e não conseguir chegar nem na sobrancelha. Perdão por ser tão medíocre aos seus olhos; se lhe servir de consolo, eu já perdi as contas das vezes em que enruguei o rosto como quem faz cara de nojo só de pensar em você. Eu preciso pedir desculpas por não conseguir escrever a você sem derramar uma simples gota de deboche; o tempo e as circunstâncias são terríveis, eu sei.
               Por todas as vezes em que acreditei em você: perdão. Sim, eu peço desculpas pelos votos de confiança desperdiçados, pelas palavras inocentes que eu te disse, pelos abraços que te dei nos momentos em que deviam ser dados – ah, perdão pelos que saíram quando não deviam ter sido dados. Perdão por não te enxergar como você realmente é; essa minha mania de me apegar às mentiras ainda vai me matar. Desculpe-me de todo o coração por sentir seus batimentos cardíacos, e por não duvidar da existência de um coração dentro do seu peito.
               E assim, se pensar em mim, não morra de raiva, não; se tiver que morrer, morra de perdão. Eu também quero morrer de perdão. Porque só assim encontrarei alguma vida em que eu me encaixe.
               Perdão por não conseguir te pedir perdão – deve ser porque o tal está sendo pedido pela pessoa errada. E caso a pessoa certa o peça, eu digo com todas as letras que o alfabeto me oferecer: perdão por me sentir eternamente incapaz de aceitar seu perdão.

Extraído do livro de crônicas "A culpa é do tempo".


(Simone D'Aillencourt)

Nenhum comentário:

Postar um comentário