Eu peço desculpas.
Desculpe-me
por ser tão ridiculamente ingênuo que me deixei cegar pelas milhares de coisas
que fazem a roda do mundo girar mais lenta que o normal. Desculpe por não ser o
santo que eu devia ser, por negligenciar seu modus operandis, por me deixar levar pelo otimismo exacerbado. Eu
sei, foi ato falho. Desses que custa nosso perdão – ou a falta dele.
Perdão
também por não conseguir olhar no fundo dos seus olhos, e não conseguir chegar
nem na sobrancelha. Perdão por ser tão medíocre aos seus olhos; se lhe servir
de consolo, eu já perdi as contas das vezes em que enruguei o rosto como quem
faz cara de nojo só de pensar em você. Eu preciso pedir desculpas por não
conseguir escrever a você sem derramar uma simples gota de deboche; o tempo e
as circunstâncias são terríveis, eu sei.
Por
todas as vezes em que acreditei em você: perdão. Sim, eu peço desculpas pelos
votos de confiança desperdiçados, pelas palavras inocentes que eu te disse,
pelos abraços que te dei nos momentos em que deviam ser dados – ah, perdão
pelos que saíram quando não deviam ter sido dados. Perdão por não te enxergar
como você realmente é; essa minha mania de me apegar às mentiras ainda vai me
matar. Desculpe-me de todo o coração por sentir seus batimentos cardíacos, e
por não duvidar da existência de um coração dentro do seu peito.
E assim,
se pensar em mim, não morra de raiva, não; se tiver que morrer, morra de
perdão. Eu também quero morrer de perdão. Porque só assim encontrarei alguma
vida em que eu me encaixe.
Perdão
por não conseguir te pedir perdão – deve ser porque o tal está sendo pedido
pela pessoa errada. E caso a pessoa certa o peça, eu digo com todas as letras
que o alfabeto me oferecer: perdão por me sentir eternamente incapaz de aceitar
seu perdão.
Extraído do livro de crônicas "A culpa é do tempo".
Extraído do livro de crônicas "A culpa é do tempo".
(Simone D'Aillencourt)
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