Sabe, eu não entendo esse planeta. As coisas são tão loucas,
tão quentes e ao mesmo tempo tão frias... Não são as cordas que nos enforcam,
mas pedaços de papel que nos prendem, nos compromissam, nos tiram do sério. Não
entendo os vícios, a necessidade que sentimos em dedicar nossas vidas a algo superficial,
quase desprezível. Não entendo também como consigo ter tanta coisa para fazer e
só pensar nessas futilidades.
Essa
coisa de estar conectado ao mundo, por exemplo. Isso cansa. Saber todas as
informações, conhecer todos os lugares, ter um número infinito de opiniões na
ponta da língua... Mostrar para o mundo que você vive nele cansa. Como a tevê,
com os mesmos programas, as mesmas histórias, a mesma falta de sintonia durante
toda a sua vida. Como as fotografias, aquelas que tiramos no ápice da vaidade –
até o tempo passar e você sentir vergonha daquela cara que fez, ou saudade
daquele tempo em que tinha um rosto limpo, sem rugas ou marcas de expressão.
Como diários pessoais, aqueles que viraram peixe e caíram na rede, aqueles que
transbordam repetições e inverdades, respingando hipocrisias.
A vida
real cansa. Ter que se engravatar, que colocar um vestido de festa, ter que
usar salto ou sapato social, ter que deixar a barba crescer porque está na
moda, ter que usar cílios postiços e fingir que está adorando (enquanto sua
vontade é arrancar aquela porcaria na primeira crise de coceira), ter que
assinar revistas da sua idade, mas que você nunca vai ler, ter que ser o que é,
mas não é, mas é e nunca será... Confundir-se. A todo instante. Isso também
cansa.
Dar
explicações. Por que você ri? Por que você chora? Por que você odeia? Por que
você ama? Quem permitiu uma coisa dessas? Quem disse que você pode? Quem disse
o que você quer? Quem dita o que você faz? Seja você mesmo! Equilibre as
coisas, e não enlouqueça. Ou enlouqueça ao provar para o mundo que você é um
péssimo malabarista.
Crescer.
Amadurecer. Aprender com tropeços. Nossa, como isso deve ser bom. Que teoria
mais linda. Mas depois que a gente se acostuma a viver do jeito que já vivemos,
as coisas que nos parecem boas acabam dando preguiça. Esquisito.
Será que
em Marte as coisas também funcionam assim?
(les pensées croisées)
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