sábado, 25 de janeiro de 2014

Cansaço



Sabe, eu não entendo esse planeta. As coisas são tão loucas, tão quentes e ao mesmo tempo tão frias... Não são as cordas que nos enforcam, mas pedaços de papel que nos prendem, nos compromissam, nos tiram do sério. Não entendo os vícios, a necessidade que sentimos em dedicar nossas vidas a algo superficial, quase desprezível. Não entendo também como consigo ter tanta coisa para fazer e só pensar nessas futilidades.
           Essa coisa de estar conectado ao mundo, por exemplo. Isso cansa. Saber todas as informações, conhecer todos os lugares, ter um número infinito de opiniões na ponta da língua... Mostrar para o mundo que você vive nele cansa. Como a tevê, com os mesmos programas, as mesmas histórias, a mesma falta de sintonia durante toda a sua vida. Como as fotografias, aquelas que tiramos no ápice da vaidade – até o tempo passar e você sentir vergonha daquela cara que fez, ou saudade daquele tempo em que tinha um rosto limpo, sem rugas ou marcas de expressão. Como diários pessoais, aqueles que viraram peixe e caíram na rede, aqueles que transbordam repetições e inverdades, respingando hipocrisias.
               A vida real cansa. Ter que se engravatar, que colocar um vestido de festa, ter que usar salto ou sapato social, ter que deixar a barba crescer porque está na moda, ter que usar cílios postiços e fingir que está adorando (enquanto sua vontade é arrancar aquela porcaria na primeira crise de coceira), ter que assinar revistas da sua idade, mas que você nunca vai ler, ter que ser o que é, mas não é, mas é e nunca será... Confundir-se. A todo instante. Isso também cansa.
               Dar explicações. Por que você ri? Por que você chora? Por que você odeia? Por que você ama? Quem permitiu uma coisa dessas? Quem disse que você pode? Quem disse o que você quer? Quem dita o que você faz? Seja você mesmo! Equilibre as coisas, e não enlouqueça. Ou enlouqueça ao provar para o mundo que você é um péssimo malabarista.
               Crescer. Amadurecer. Aprender com tropeços. Nossa, como isso deve ser bom. Que teoria mais linda. Mas depois que a gente se acostuma a viver do jeito que já vivemos, as coisas que nos parecem boas acabam dando preguiça. Esquisito.
               Será que em Marte as coisas também funcionam assim? 


 (les pensées croisées)

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