Ela não
briga. É calma, serena, pacífica. Sorri o tempo inteiro. Um sorriso bonito,
desses que toma o rosto todo, que enruga o nariz, que desequilibra os olhos.
Corpo suntuoso, bom gosto, diferente das outras. Inteligente, assimétrica,
espontânea, diz coisas que às vezes ninguém entende.
E é
bonita. Bonita mesmo. Bonita como uma flor.
Perfeita.
Tem pele macia, bochechas rosadas, os lábios finos, jeito de interior. É linda
porque é única, não tem outra igual. É de uma doçura que se desmancha na boca.
É perfeita.
É
estranha. Tão estranha que se esconde, se afasta, não diz nada, nem ouve. Fica
quieta, parada num canto, admirando o céu e se deixando levar por um bando de
gaivotas imaginárias. Não vê o tempo passar. Já perdeu a noção do tempo há
tempos. Sempre tão sozinha em seus pensamentos, misteriosa, quase psicopata.
Vive de cabeça cheia: ideias, problemas, soluções. Tem amigos estranhos... Uma
se chama Angústia, é uma chata que sufoca a gente por qualquer coisinha. A
outra é a Ansiedade, que tem aversão a manicures.
É
estranha porque sente demais. Ama demais. E acredita na perfeição que não
existe. Acredita que pode mudar o mundo, as pessoas, as histórias. Tem o riso
nervoso, já percebi. Não é normal alguém que ri de tudo, até mesmo de quando a
gente reclama do calor. Quer proteger, manter, preservar. Insegura, descabida,
um núcleo que não cabe no citoplasma. É complexa demais, sabe? Tem cheiro de
problema. Cheiro doce, muito doce. Faz a gente espirrar, e quando a gente
espirra, é como se tudo sacudisse.
Não é
perfeita. O que a salva é a imperfeição.
Mas é
estranha. Assustadora. Um monstro de uma cabeça que vale por infinitas – com todos
os seus problemas.
(Tumblr)
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