De repente,
um cheiro de morte apareceu na minha família. Meu tio foi embora e deixou
lágrimas, saudades e um punhado de dor. A família inteira morreu um pouco, e
então eu pensei na burocracia, nas incertezas, no futuro de quem fica. Todos
nós pensamos. E aqui estou eu, antes mesmo de terminar a introdução, já
pensando nas considerações finais. Ou seria o contrário?
A
vida é estranha, cheia de buracos, de porradas, de expectativas frustradas. Mas
acredite: ela não é tão falha quanto a morte. A morte, meus amigos, não presta.
Quem vai, vai. Mas quem fica...
Quem
fica deve assinar papéis, cuidar de problemas difíceis, planejar um futuro
impensado, reerguer-se, tirar forças do fundo do poço, reviver. Como se tivesse
acabado de passar por um desfibrilador. Os efeitos do choque parecem
permanentes.
Não
é possível esquecer – ah, isso não existe. Nem pra quem morre, nem pra quem
fica, nem pra quem descobre que não tem mais chance. Só há uma maneira de
realmente esquecer aquele(a) ou aquilo que nos é quase essencial de tão
importante: ou você bate a cabeça na parede e sacode o cérebro ou junta os
pulsos e se deixa levar pelo Alzheimer. Se você ama – e amor não tem tamanho,
acredite -, bom, esquecer não é uma opção.
Mas
você supera. Supera a morte, supera a frustração de um amor rejeitado, um fato
trágico que te deixou de pernas para o ar. Você descobre que usou o verbo
errado durante toda a vida, mas que ainda há tempo de se redimir – hora de
superar os erros que você cometeu.
Superar
é lembrar todo dia, a cada momento, como se fosse um post it colorido perdido
entre tantos outros que emolduram a tela do seu computador. Vez ou outra você
acaba passando o dia sem tempo de ler o que está escrito naquele papel
minúsculo, mas você sabe o que está escrito ali – e consegue viver sem ter que
passar aquelas palavras para uma folha A4. Você se descobre parte do que viveu
e de quem viveu com você. Segue em frente. Às vezes, você olha pra trás, e uma
lagrimeta escorre sem te dar tempo pra engolir o choro e continuar a sua nova
rotina. Mas lá está você, firme e forte, sabendo que a força vem de tudo que um
belo dia fez você se sentir a criatura mais fraca da face da Terra.
É
difícil. Extremamente duro. É preciso morrer um pouco para entender que essa
coisa de perder e ganhar é um ciclo sem fim – como a vida, como a morte, como
tempo. O tempo – senhor de todas as coisas, aquele que dita sorrisos e
sofrimentos, aquele que nos ensina tudo que devemos aprender nesse árduo
processo de autoconhecimento chamado perda.
No
fim das contas, somos todos falhos – assim como a vida e a morte.
Mas
isso a gente supera. Pode crer.
(Ouça Everglow, Coldplay)
(Art Fucks Me)
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