Que
o verbo “opinar” está na moda, todo mundo já sabe. De repente, ficou mais fácil
achar alguém com opinião do que com bunda (fazendo uma vaga conexão com aquele
dito que eu sempre troco as palavras na hora de reproduzir). A princípio, ter o
que pensar seria a maior prova de que não somos amebas que vivem dando rolês
por aí.
Até
o dia em que ter o que pensar perdeu a importância para o ato de gritar o que
se pensa – mesmo que você não pense absolutamente nada.
Entre
bilhões de litros de lama tóxica em Minas e outros litros de sangue que mancham
as calçadas da romântica Paris, entre números desencontrados e alardes ou
desprezos de uma mídia melindrosa, só existe mesmo a palavra tragédia. A mesma
tragédia que nesse momento assola as tão famigeradas e clichês redes sociais –
aquelas que você usa para dizer que o seu dia foi uma droga, que o trânsito
está infernal e que a conta de luz não para de subir. A tragédia da opinião faz
com que todos nós – que não estamos em Minas, Paris ou em qualquer outro lugar
assolado pela violência neste momento – sejamos vítimas. Vítimas de nós mesmos.
A
necessidade de expressar a sua opinião é muito mais forte do que desejar paz e
conforto aos corações abalados pela tragédia, do que doar um galão de água que
seja para uma família mineira, do que enxergar as mazelas que estão bem na sua
frente no dia-a-dia mas que você não tem tempo pra ajudar a resolver. Expressar-se
é banal. Hoje em dia, não se trata de pensar, de escrever, de estudar, de
imaginar, de pintar a cara, vestir a camisa, seja o que for. Hoje em dia, a sua
opinião é o seu berro de existência – e no momento, não vejo nada de bom nisso.
Não vejo nada de bom em usar um espaço universal para propagar o ódio, o
extremismo a tristeza. Não vejo nada de bom em criar competições: quem opina
melhor? Quem tem mais curtida? Qual dessas tragédias é mais importante?
Tem
vidas lá fora morrendo, se perdendo por conta do terror, se afogando na lama
dos outros. Tem gente se escondendo atrás do medo de sair de casa, de praticar
sua religião, de assumir seu gênero. Tem gente com medo de viver. E por isso,
nada diz, nada grita, nada expressa. Porque dói tudo. E esse berro é pra um
universo disposto a se resumir num ombro amigo, num ouvido solícito, numa alma
compreensiva.
Enquanto
isso, tem gente com medo de não ser ouvido. E por isso, há tanto berro ecoando
entre execuções no spotify e palavras de jornalistas na tevê. Gente que precisa
se expor, que precisa intensificar sua própria dor – que apesar de
incomparável, não deve ser superior à dor de quem realmente precisa de ajuda no
momento. Gente mesquinha, pequena, digna de pena. Covarde demais pra enfrentar
o sangue e a lama, pra rezar por tudo e por todos, pra se sensibilizar por um
mundo aparentemente perdido como todos nós.
Hoje
eu rezo por Minas, por Paris, pelo México, por Fortaleza, por todos os lugares
atingidos pela violência e por você que, dentro da sua necessidade tão grande
de gritar, acaba se esquecendo de que tem horas que o silêncio é capaz (lê-se suficiente) de
falar tudo que deve ser dito.
(Ouça o silêncio)
(Bonsai Madness by Alex Sirén)
Nenhum comentário:
Postar um comentário