domingo, 6 de dezembro de 2015

Atrás das grades



Eu vou pra janela
e ficou surda
muda
entorpecida
uma desconhecida
que passou por mim
eu estou cheia
de gordura e pensamento
estou farta
de tanto sentimento
eu conto as luzes
eu musico as buzinas
sou uma menina
atrás das grades
eu enrolo as entranhas
eu me sinto tão estranha
que subo e desço as escadas
pulando os degraus
mas ainda estou na janela
rimando qualquer coisa com ela
que sou eu
que sou aquela
que viu seu nome na tela do telefone
e que some para você sumir
da vida dela
da minha vida
de todas as vidas
das linhas dos meus romances
dos versos dos meus poemas
das minhas entranhas
aquelas enroladas que se sentem estranhas
eu vivo para o dia seguinte
mas enquanto ele não surge
eu fico na janela
fingindo que o espero
mas te esperando, sem querer
criando inimizades
resolvendo ambiguidades
chorando por dentro
e vazando por fora
hiperbólica
mas queria mesmo era ser gostosa
pleonástica
telúrica
terráquea
cor de rosa
cansada.

Você não sabe
mas está aqui comigo
cheio
vazio
perdido
como eu
se isso for incesto
do mundo eu me despeço
mas antes
deixa o Emirates passar
pra eu dar boa noite
pra tela do celular.

(Ouça Million years ago, Adele)

(DiegoKoi)

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