- Você me tocou com palavras. Nunca
saberei se o que você disse é verdade ou mentira, mas sinceramente, isso não me
interessa. Você tateou minha audição, e às vezes isso é o suficiente. O seu
toque me fez olhar tudo diferente. Agora eu sei que sou... Bom, ainda não sei.
Mas isso também não interessa: te ouvir é tudo que me importa. Vai, fala mais, me toca
de novo. Sou todo ouvidos. Quero que você me invente verdades, que me afirme
mentiras, que me faça acreditar naquilo que sempre duvidei e tire a graça
daquilo que sempre foi minha religião. Um toque muda tudo, sempre mudará.
- Menina, adorei seu toque. O
vestido ficou perfeito. Eu fiquei perfeita! Bom, não sei se perfeita é a
palavra certa... Acabei descobrindo que tive que usar aquele vestido porque
estou gorda, e se estou gorda não estou perfeita. Você abriu meus olhos quando
pensou que eles estivessem fechados... Nossa, que loucura foi essa que acabei
de dizer! Acho que preciso de um tarja preta. O que você me sugere?
- Não sei se pode me ouvir, mas
espero que possa, e quando digo que espero tenho vontade de usar todos os advérbios
terminados em “mente”. Só passei pra dizer que sinto sua falta, e isso é todo
dia, toda hora, sem intervalos. Pode parecer errado, mas não importa; é a mais
pura verdade. Enfim, me dê um toque, por favor. Vou te esperar, como sempre.
- Ela me tocou. Dizem que toques
não podem ferir; mentira. Quem disse isso? Não sei quem foi, mas foi alguém
mentiroso, alguém capaz de ferir como ela. Só de pensar no que ela me fez,
desejo que o chão se abra pra que eu me meta lá embaixo, mesmo sem saber o que
tem lá. Aquele toque que rasga por dentro, sabe? Que faz você perder o controle
da realidade, que faz você querer sumir. Não há número capaz de medir esse
estrago. Não há descrição que eu possa usar. Simplesmente dói, dói como um
corte e ao mesmo tempo como uma queda, e também com uma apunhalada, e também
como uma queimadura... Uma aquarela de dores. Quem toca nem imagina. Quem sente
não esquece.
- Ele me tocou. E eu juro que
gostaria de congelar esse momento pra sempre. Sua mão atravessou meu peito e
foi parar lá dentro, lá na alma, no coração. Seus olhos atravessaram os meus olhos,
e então só conseguíamos enxergar a nós mesmos. Nossas peles se tocaram, e de repente
nos tornamos um só. Sua voz tocou meus ouvidos e me fez pensar na sorte que
tenho de estar nesse corpo, com esses ouvidos, com ele me dizendo aquelas
coisas que a gente quer ouvir até perder a audição, até morrer. Quando ele me
toca, ah, aí eu sei quem sou. É como se eu voasse. Ao mesmo tempo, é como se eu
corresse centenas de maratonas ao mesmo tempo. E estranhamente, é como se eu estivesse
parada, como se só o vento me cercasse, a brisa, o mar e todas as outras coisas
que me dão liga. Eu vivi pra isso. Ainda vivo.
- Não conta nada pra ninguém, mas
eu quero te tocar. Quero que você sinta minha pele, minhas palavras e tudo
mais. Que a gente se contate, se conecte, se carregue em nossos pensamentos.
Quero te mostrar meu mundo, meus planetas, meu universo perdido e deserto.
Quero que você o povoe. Também quero povoar seu universo. Exaltar sua fauna e
sua flora, Explorar seus vales e rios. Absorver sua cultura. Navegar no seu
oceano. Quero te livrar de todos os males, amém. Te fazer amar seu reflexo no
espelho, te mostrar a melhor perspectiva dessa vida louca que a gente leva, te
fazer desistir de entender o que não se entende, te fazer insistir em si mesmo,
em mim, em nós. Não vai doer, eu prometo.
- Não me provoque; tô quase dando
choque. Não me coloque num pedestal imaginário; não confio em pedestais, e sua
mente parece estar podre. Não me deseje boa sorte; não quero sorte, não sei bem
o que quero. Não me dê notas, não me crie cotas, não me enlouqueça. Já tenho
meu diagnóstico, dispenso o seu. Tire seus sapatos, lave suas mãos, esvazie sua
cabeça, refaça suas ideias, escove seus dentes, respire com calma, se inspire
sem pressa, nada de espirrar: sei que preciso de um toque, mas tenho TOC,
portanto, não me faça te odiar.
(Ouça Nem luxo, nem lixo, Marina Lima)
(Tumblr)
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