quinta-feira, 10 de julho de 2014

Filmes



Esses filmes de hoje estão muito caídos. Quando a gente vai ao cinema, além de ser roubado na hora de pagar o ingresso, só tem opção ruim: ou é filme com esses guerreiros doidos, ou é desenho animado, ou é romance adolescente, ou esses policiais mentirosos (o filme, por favor) ou, pior ainda, essas comédias forçadas com esses roteiros sem graça que acabam fazendo a gente rir porque, pra falar a verdade, ninguém vê filme pra pensar. Se você quer pensar, você vai ao teatro, vai ler um livro, sei lá... O que prova que as pessoas têm preguiça de botar o cérebro pra funcionar. Mas não, não tô criticando ninguém, meu amigo: só ando meio irritadiço com esses filmes de ultimamente.
Se eu pudesse eu mesmo fazer um filme pra inglês e todo mundo ver, eu faria um filme daqueles. Não sei se seria campeão de bilheteria; talvez, se eu comprasse todos os ingressos... O gênero? Qualquer gênero é bom. Se você quer fazer uma fita de amor, primeiro tem que parar com essa de fita: o negócio agora é DVD, e qualquer pessoa faz um vídeo onde quer que esteja. Romance tem lá suas ressalvas... Eu tiraria essas chatices. A mocinha, por exemplo. Nada de ser bonitona. Tem que ser normal, gente como a gente, tem que xingar no trânsito, tem que usar calcinha gigante quando tiver naqueles dias, tem que retocar a raiz dos cabelos de duas em duas semanas, tem que ser normal, caramba. Escritora? Nada disso. Escritoras são chatas, vivem sonhando demais. Começa um filme com uma protagonista escritora e eu já quero sair correndo.
Ah, sim, vamos continuar com nosso romance. Essa onda de mocinho e mocinha é muito chata. Vamos mudar isso aí... Mas não é pra preencher cota de homossexual, até porque cota é uma coisa insuportável. O negócio é essa conjuntura, essa coisa de cabelo perfeito, de brilho nos olhos, de declaração de amor a todo instante... Não é assim que a coisa funciona. Se é pra mostrar o lado idiota do amor, mostra alguém com um emprego qualquer, com uma casa qualquer e com um cabelo em crise, faz favor. Romance não pode ser sinônimo de mentira. Mostra a verdade da situação, mostra que ninguém é perfeito e, por favor, vê se mostra que o final feliz é só o começo. Obrigada.
Se for um suspense, mais uma vez: nem sempre o cabelo da mocinha deve estar perfeito. Dá uma bagunçada! Quando é que vão entender que ninguém acorda com o cabelo arrumado? E outra: esses climas sombrios são um pé no saco. Dá vontade de pegar o controle remoto e ficar controlando a cor da tevê. Por isso, façamos um suspense colorido com personagens coloridos e expressivos, por favor.
Dramas sofrem um terrível preconceito. Tudo que faz chorar deve ser muito bem analisado. Pra começar, esses temas sofridos, tipo doença terminal ou cachorro que perdeu a pata, tem que ser comedido. A trilha sonora é outro ponto importante: aquelas músicas instrumentais que fazem os nossos olhos despencarem são um perigo. Então eu decreto: nos meus dramas, quero que toque um pancadão. Isso aí: se é pra chorar, que chore, mas chore descendo até o chão.
Filmes de guerra devem acabar porque são filmes de guerra e eu sou de paz. Não quero ninguém com caraminhola na cabeça.
Os filmes policiais... Bom, vamos lá com calma. Heróis não existem. Mas existem “mocinhas” que ficam em chamas por causa desses heróis (que eu já disse, não existem). Portanto, temos uma verdade por aí. Ah, sim. Se é pra fazer um filme mentiroso, faça, mas faça uma mentira bem feita. Os efeitos especiais têm que ser perfeitos, entendeu? Mentira não se justifica com porcaria. Se é pra fazer algo verídico, como a rotina de um detetive ou essas palhaçadas de sempre, por favor, nada de apelar: carro voando, trem surfando, barco no asfalto, não, não, bota uma coisa que aconteça, bota um guardinha de trânsito contando sua rotina, mas vamos respeitar o compromisso com a verdade. E mais uma vez: esqueçam o cabelo da mocinha. Ele não é perfeito; quando chove, ele parece que ele levou um choque. Isso ninguém mostra.
Comédia tem que ser real. Tirar motivo pra rir de coisa idiota é comédia sim. Aliás, o importante não é motivo, mas sim a qualidade da gargalhada. Mas eu faria uma comédia pra pensar, sabe? Tem que refletir na hora de rir. Tem que refletir sempre. É a regra da vida.
Como seria um filme perfeito? Não seria. Eu sei que as pessoas vão ao cinema em busca de um pouco de perfeição em suas vidas, mas a verdade é que o filme perfeito não existe. Sempre vai haver um ângulo, uma expressão, um figurino, uma fala, enfim, qualquer coisa que vai comprometer tudo. O importante é saber tirar proveito disso. É brilhar. E se a história não for legal, invista nela. Nem que seja pela pipoca. 
E por favor: não se esqueçam que a coisa mais falsa de qualquer filme sempre será o cabelo da mocinha. 


(Ouça The world as I see it, Jason Mraz)


(War)

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