Eu não queria ser Nathalie.
Lembrei-me
disso num papo qualquer com minha avó. Não gosto desse nome. Aliás, não suporto
nomes estrangeiros. Não que eu seja patriota; pelo contrário, mas não é sobre isso
que quero discutir. Simplesmente não gosto... Mas aprendi a viver
com ele. Acostumei-me. Adaptei-me a mim mesma. Isso é estranho de se dizer, mas
é a verdade.
Ninguém
gosta de nada em si mesmo. Por exemplo: assim como não gosto do meu nome,
também não suporto esse meu cabelo cheio que às vezes mais se parece com a
cúpula de um abajur (e que já rendeu post aqui no blog). Acho minhas poesias
românticas demais, e fico meio enjoada com o que escrevo. Não gosto das minhas
neuroses, da minha mania de gaguejar quando estou nervosa nem do meu medo de
elevador. Todo mundo é assim, insatisfeito com alguma coisa tão pessoal que por
isso mesmo dói, machuca, pesa. Não sei se somos todos macacos... Mas uma coisa
eu sei: somos todos loucos. Muito loucos. Por isso, não joguem bananas. Joguem
camisas de força. E cd’s do Jorge Vercillo.
Mas
sabe, eu me adaptei. Várias versões foram surgindo com o tempo. O mundo molda a
gente, recicla, elimina, faz o que tem que fazer. A vida bota a gente pra se
relacionar com os coleguinhas na escola, pra pegar ônibus sozinho, pra aprender
a escolher, pra se entregar pro que realmente parece valer a pena, pra se tornar gente grande mesmo achando isso um saco. A vida bota
a gente pra executar nossos valores. E aí, meu caro, você pode ser Zalêncio,
Zanita ou Ziriguidum, ah, não importa: seja alguma coisa e seu nome será apenas
seu nome, nada mais.
Não me
traduzo porque todos somos universais. Estou disponível em todos os idiomas, linguagens, crenças e
convicções. Essa coisa de se adaptar é muito louca, tão louca que enlouquece. E
eu enlouqueci, porque precisei aprender a conviver com várias versões de mim
mesma até escolher essa que, pasmem, não gostaria de ser Nathalie, mas não
trocaria de nome por nada nesse mundo. Novas edições foram lançadas. Agora
tenho capa dura, algumas boas ilustrações e respeito o novo acordo ortográfico –
não é porque a gente não gosta que vai desrespeitar, acho que aprendi isso na
terceira ou quarta edição.
Talvez,
se eu fosse Luiza, não fosse assim. Porque Luiza é um nome bonito demais. Acho
que nasci pra ser Nathalie. Pra ter cabelo que faz cosplay de cúpula de abajur.
Pra fazer coisas erradas de vez em quando, porque sabe como é, a Nathalie é só
a Nathalie, assim como o Joãozinho é só o Joãozinho, e o Zezinho é alguém que
eu não conheço, mas que é simplesmente Zezinho. Pra aprender com essas coisas
erradas e fazer coisas certas, ou tentar. Pra ser paranoica. Pra ter medo de
elevador – muito... E pra ser fã do Jorge Vercillo. É, acho que nasci pra isso.
Vai entender. Outras versões serão criadas, e não as temo: que venham, nem
precisam dar em best seller. Tô feliz com meu lugar na estante. Tô feliz no meu
instante.
E você nasceu
pra me ler, mesmo sem querer, mesmo sem me conhecer, mesmo sem me entender e
mesmo que se arrependa ao chegar à última linha; caso isso aconteça, vou logo
avisando que não nasci pra ser pé de sofá ou objeto de decoração. Você não
nasceu pra viver as mesmas loucuras que estão na minha ficha, mas pra aprender
o mesmo que eu, pra ser feliz como eu... Não. A verdade é que a gente não sabe
porque nasce. Mas a gente nasce, e tem a obrigação de fazer valer a pena cada
versão, cada novo capítulo, cada adaptação. No fim, o conjunto da obra é o que
importa. Mas isso é só no fim, e pra esse tal de fim ainda tem chão à beça.
Eu aprendi
a gostar de ser Nathalie.
(Ouça 1979, The Smashing Pumpkins)
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