domingo, 18 de maio de 2014

Amor tem tamanho?



- Gestos grandiosos de amor me fazem acreditar no amor.
               Uma conversa no Twitter com uma amiga me fez pensar nesse assunto. Gestos grandiosos. Amor. Gente que se entrega, não, mais do que se entrega: faz loucuras, não se importa em parecer ridículo para colocar um sorriso no rosto da pessoa amada. Minha amiga dizia que quando via um rapaz fazer algo grande e surpreendente para seu amor, acreditava que um dia o seu chegaria. Eu disse que essa coisa de grandiosidade não faz o meu tipo. A machona.
               Não acredito em grandiosidades. Sei lá, acho que o mundo deixa a gente meio duro... “Sabe de nada, inocente”. Não sei se quem faz loucuras por amor realmente ama, até porque acredito que exista uma linha tênue entre a loucura que a gente sabe que é loucura e faz só pra chamar atenção, ganhar um crédito e marcar a opção “eu fiz a minha parte” e aquela loucura que a gente até pode imaginar que seja uma loucura, mas que a gente faz sem se importar, simplesmente porque deu vontade de fazer – isso também não te isenta de um bom diagnóstico assinado por um psiquiatra de primeira linha.
               Mas quando se trata de loucuras românticas... Todos nós somos criados na base da prova de amor. E cada um tem uma concepção diferente. Existem os que acreditam que provas de amor são essenciais, e nesse quesito entram as cartinhas românticas, as flores e os diamantes – quanto mais suntuoso (e caro), melhor. Existem os que negam a importância de provar o amor, até porque se trata de um sentimento, não de um prato de comida. E existem aqueles que acreditam que o amor, surpreendentemente, encontra-se na rotina.
               Exatamente. É a rotina que faz o amor, não a data especial ou aquele jantar à luz de velas. Amor a gente faz todo dia, meu caro. E faz por qualquer pessoa. Amor a gente faz pela gente, pelo que vê no espelho. Amor não é relativo. Amor é amor, é clichê. E exatamente por isso a gente deve respeitar.
               A gente ama quando cuida, quando se preocupa, quando confia. “Como foi seu dia?”, “como vai aquela dor de cabeça?”, “dá pra gente se ver qualquer dia?”. Sentiu um perfume e se lembrou de quem você gosta. Aliás, nem precisa sentir perfume. A gente não precisa lembrar que gosta. Quando a gente gosta, a lembrança não compete com o esquecimento.
               Ah, sim, atos grandiosos. Pichar um muro. Roubar um anel de diamantes. Pagar uma passagem pra Paris. Dar todas as rosas que encontrar pela cidade. Pedir em casamento de um jeito inesperado. Dar aquele presente que você sabe que nem vendendo um rim conseguirá pagar. Loucuras para dizer que fez, para jogar na cara, ou simplesmente pra matar o tempo enquanto o outro pensa: “caramba, eu o amo, mas não sei se teria cabeça pra fazer tudo isso”.
               Como já disse, o amor está nas pequenas coisas. Sabe por quê? Porque nós somos pequenos. O mundo é uma grande bola formada por pequenas formiguinhas sofredoras: nós. Não nascemos pra carregar pesos que não sabemos calcular; quem se atreve não merece uma salva de palmas, merece no máximo uma crise de autoestima dizendo: “nossa, já te disseram que você é um idiota?”. A gente ama porque o amor é o único peso-pesado que conseguimos suportar, apesar das controvérsias. E a maior loucura que existe a gente já cometeu: amar. Então não precisa inventar. Nem precisa vestir a carapuça de grosseiro e dizer: “ah, eu não preciso ser romântico”. Não, não é assim que as coisas funcionam.
               O amor é grande, pode ser dividido em pequenos potes. A vida é feita de potes. Dá pra guardar tudo, pra armazenar – só não é permitido tampar. Claro, fugas da rotina são sempre bem-vindas... Mas do que adianta fingir que ela não existe? Não conheço alguém em férias permanentes.
               Por isso, ame. Ame sem ter medo da medida. Mas não apele para impressionar, para ganhar estrelinhas no seu relatório direcionado à sua consciência. O amor é grande, tem pra todo mundo, tem pra todos os dias, tem pra vida inteira. Basta começar pela gente. O amor não se mede, mas mede a gente.
               Quer loucura maior do que se entregar? O resto é fichinha. Nem adianta tentar impressionar.
                Respondendo à pergunta do título: tem não, dona. Amor é imensurável. Anota aí.
               Ah, e como eu disse pra minha amiga: é só uma opinião.


(Ouça Rumo ao infinito, Maria Rita) 



 (Agnes Cecile)

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