quarta-feira, 21 de maio de 2014

O que realmente somos



               Nós somos mesmo uns bichos esquisitos.
               Quando algo nos agrada, fiamos com tanto medo de perder que surtamos. Se algo nos é desagradável, caímos num abismo de negatividade, de onde parecemos nunca mais sair. Se amamos, focamos no egoísmo de saber se também somos amados; se não amamos, somos uns miseráveis cansados. Se alguém opina sobre algo, condenamos por discordar de nós ou por concordar e soltar um argumento melhor que o nosso; se a pessoa fica na dela, condenamos por ter uma boca e não usar, por parecer fraco ao investir no silêncio.
               Se alguém nos enfrenta, é um crápula; se nos apoia, é um puxa saco. Se é bonito, só pode ser ignorante; se é feio, é um coitado. Se é réu, deve morrer; se é vítima, deve pagar pela burrice. Se é do Ocidente, é impuro, desviado; se é do Oriente, é explosivo (irônica e literalmente). Se sofre, deve enxugar as lágrimas; se é feliz, pode até sorrir, mas que sorria longe de nós. Se voa, pode cortando suas asinhas, você não é nem anjo nem avião; se anda, pode tirando esses sapatos antes de entrar. Se tem vícios, é fraco; se não tem, ops, tem algo errado. É casado? Trai. É solteiro? Não vale nada. Namora? Nos enjoa só de olhar. Noivou? Enrolou. É daqui? Idiota. É de lá? Prepotente.
               Acredito que os pesquisadores de plantão ainda descobriram esse prazer que há em apontar. Pode ser que seja um prazer sexual; a mão que julga masturba o nosso ego. É muito mais do que uma questão de hipocrisia; trata-se de algo mais profundo, com ares oceânicos, enlouquecedores, tenebrosos...
               Não, não somos modernos, críticos, conservadores, literatos, revoltados, conscientes, realistas, engajados, questionadores, humanos, livres, pensadores, sobrecarregados, perdidos, complexos, perfeitos, loucos... Nada disso. A verdade é que somos pentelhos. Pelo pubianos: chatos, nojentos, eca. Mas quem vai lutar contra a anatomia? Quem vai mudar isso?
               A não ser que alguém invente de fazer uma depilação íntima. Na sociedade. 

(Ouça Team, Lorde)


 (Zaloast Chipman)

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