A
mocinha morre no final. Leva um tiro bem no meio da testa. Assim, sem
contexto, sem pretexto, sem explicação. Caiu e ficou. Sobem os créditos
ao som de um tema musical fúnebre – um rock depressivo do fim dos anos
noventa.
Eles
se casam. Não, ela não se lembra do fato de ter sido sequestrada,
algemada, agredida, perseguida, enganada etc. Não se lembra de
absolutamente nada, mas pensa
que é sua namorada. No fim, a filha do casal se chamará Gertrudes, ela
sugere. Como o esqueleto por quem ele tinha estranha devoção no começo
da história.
Ele morre, contrariando as expectativas que diziam que ela morreria primeiro. Aliás, ela viveu durante um bom tempo.
Guardou todas as cartas de amor que ele escreveu e transformou em um
livro que reinventou os clichês românticos de sua geração. Até porque o
marido morre, mas as contas continuam bem vivas.
Ele
larga tudo no Rio pra viver seu amor em Budapeste. Ela não acredita
quando ele chega em sua cozinha de madrugada, à meia-luz, e com sua mão leve
de quem não acredita na veracidade do momento, faz a camisola dela
deslizar pelos ombros, barriga, pernas, até que nada mais cubra o seu
corpo cheio feito de curvas – as curvas que ele diz para o caro leitor
que sempre sonhou percorrer, antes mesmo de conhecer. Paixão sem vista,
conhece?
O amor da sua vida morre depois do café da manhã. Ele vive cercado de lembranças;
não há nenhum homem nesse mundo capaz de tapar esse buraco imenso no
seu peito. Esse eterno cheiro de morte é a vida.
Todos brigam, fazem as pazes, vivem, morrem, cortam
os pulsos antes do parágrafo seguinte, atacam o bolo antes do parabéns,
adivinham a música que toca no rádio sem que o cantor ou cantora já
tenha cantado. Fotografam antes da pose. Dizem que amam antes mesmo de amar. Avançam o sinal. Vivem o studium almejando o punctum.
Dizem que são felizes para sempre. Mas morrem no final, independente da página ou do take em que vivem.
Deixam de existir como se nunca tivessem existido.
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