Também não é alegria, ah,
tá longe de ser. É quase uma alergia, uma coceira, algo involuntário
mas constante. Parece que cada célula sua está prestes a enlouquecer, e
então vem aquela frase: eu preciso disso. Eu preciso dele, dela, de mim.
Eu preciso que precisem de mim. Eu necessito. Eu dependo disso pra
viver.
Como uma onda, você quebra. Cai no chão, fazendo jus ao
meme que reproduzimos bem sentadinhos no nosso canto. O ar se perdeu no seu arrepio de frio e tortura, você se avermelha, empalidece,
transparente. Seu corpo dói; o contrário da contração te provoca mal
estar. Água. Coberta. Escuridão. Silêncio.
Vazio.
Aquela
sensação de que tudo não passou de um sonho, inclusive os anos
anteriores, seu nascimento, aquela música que você ouve há cinco anos e
que ainda mexe contigo. Você não sente nada, e como é possível isso ser
tão dolorido? A vida não passar de um buraco, uma cartola vazia, um ser
chorando em posição fetal. Você não é nada. Nada além de um vazio que
te preenche de um jeito amargo demais pra suportar.
Não quero
mais isso, você diz, e jura pra si mesmo que vai dedicar a sua vida a
purificar essa alma esburacada pela euforia. Vai achar a calma, a cola
de maresia da Calcanhotto, a bossa nova, o eterno rivotril. Vai ser
feliz e viver em estado de graça, desses em que o corpo só se contrai se
for pra gozar no final, sem luxo nem lixo.
Mas até pra achar a calma, é preciso ter fôlego. Você dispensa o corpo.
Mas não dispensa o ar.
Ele é que, de certa forma, parece te dispensar.
(Ouça Perfume do invisível, Céu)
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