Apaguei
a luz.
Abri a janela.
Num banco
perto dela, apoiei o computador.
Respiro fundo, ajeito os óculos e vou.
Voo.
A bola da vez
é branca e ilumina tudo, todos e mais um pouco.
Dizem que essa
bola rege meu signo, meu sono, meu sonho, seja lá o que for.
Faltando
palavras, caminho com ela me encarando, me iluminando assim, bem devagarinho,
me fazendo esquecer aquela regra do verbo, pronome, ah, que se dane a
gramática.
Que se danem
todas as regras desse mundo.
Que se dane o
mundo, agora, nesse instante, nesse exato instante em que a única coisa que
importa é a tal da bola.
Daqui da
janela, viro goleira. O computador é a minha trave. Os aviões são os
adversários.
Não entendo
nada de futebol.
A bola parada
no meio do campo é tão bonita que ninguém se mexe, e mesmo assim o mundo
rodopia.
A luz é
branca. Amarela. Vermelha.
O céu preto,
tão bonito, tão intenso, tão cansado dessas canções que o descrevem com tanta
babaquice, tanta caretice, lá se vai um bocejo.
Das outras
janelas, tevês no máximo, imagens de um domingo nada fantástico, tudo como
devia ser.
Que se danem
todas as regras desse mundo.
Que se danem
os adjuntos, os advérbios, os salmos e os provérbios.
Que se danem
os trechos literários cravados na ponta da língua e dispersos nas esquinas do
cérebro.
Que se dane o errado
e o certo.
Que se dane
essa mania de ser perfeito, esse TOC, essa falta de toque, esse tal de
respeito.
Que se danem
Norma e Padrão, o casal da geração.
Que se dane
tudo que se acha importante, que se acha interessante, tudo que se acha.
Que apenas
reste o que se perde.
E que essa
bola não saia de campo nem tão cedo.
Que ao menos
ela espere amanhecer.
(Ouça Fall in, Esperanza Spalding)
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