É só mais um dia normal.
Se
eu tivesse um cigarro agora, fumaria – mesmo sem nunca ter colocado um cigarro na boca em toda a
vida. Apagaria a luz, colocaria aquele velho disco de vinil, tomaria um uísque,
soltaria aquela fumaça e pronto, lá estava eu protagonizando um romance barato
sobre a minha própria vida. O problema é que eu não tenho disco de vinil – mal tenho
CD. Não faço a menor ideia de como é o gosto de um uísque. E como eu já disse,
bom, eu não fumo.
Isso
é tão estranho... Pensar, surtar, sentir, negar, evitar, pensar de novo, rezar,
clamar, declarar, surtar mais uma vez, viver por isso, morrer por causa disso, não
entender absolutamente nada. Deve ser da idade, já dizia Marina. A idade que me
pegou agora, há pouco tempo, quando eu tava distraído pensando em uma maneira
simples e eficaz de brilhar mais do que os outros. Justo quando tudo que eu
queria era ser transparente, reluzente, estonteante. E olha que eu sou agora?
Alguém que finge viver num filme xexelento só pra não se dar ao trabalho de
encarar a vida como ela é.
Você
tem algo que faz com que tudo dentro de mim dance. Como se você fosse uma
canção... E talvez você seja. Aquela canção. Aquela que toca quando não deve
tocar, mas que acaba fazendo sua própria hora, e como lutar contra isso? Você
me faz correr, gritar, pular, olhar para os lados, morder os lábios, falar tudo
o que penso, cantar, sorrir, entrar em choque. Ao mesmo tempo, você não é nada.
Não te conheço. Não sei de onde veio. Só sei que seu jeito combina demais com o
meu; deve ser um sósia de alguém que eu procuro a vida inteira, mas que não
conheço o rosto. Nem sei se quero mesmo te conhecer. Se quero viver essas
coisas, conjugar esses verbos, entrar nessa doideira que invento e desinvento
por puro sadomasoquismo. A verdade é que não sei o que quero... Ou talvez eu
saiba.
Acho
que quero voar. Quem sabe ser um pássaro. Um pássaro à prova de grades e ilusões
idiotas. À prova de surtos psicóticos. À prova do tempo. Pronto, é isso que
quero ser. Quero voar tanto e pra tão longe... De tudo, de todos. Até mesmo de
você.
Seja
você quem for.
De
qualquer forma, meu mais nobre agradecimento a você, meu caro estranho.
(Ouça Lullaby, The Cure)
(Sergej Ovcharuk)
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