domingo, 26 de julho de 2015

Falando sério

               Hoje eu parei pra pensar numa pergunta que eu faria a mim mesma caso eu fosse outra pessoa e desse de cara com essa que vos fala – vou tentar desenhar melhor com as letras: como se essa daqui fosse AB, mas numa realidade paralela, eu fosse C e encontrasse AB. Por que duas letras para me representar? Olha, se eu não soubesse controlar tanto o meu ego, seria o alfabeto inteiro.
               Ah, sim, a pergunta.
               Por que eu falo de coisas “bonitas”? Bom, às vezes eu falo de sofrimento, mas é tudo aparentemente tão pequeno, tão sub-existencial, tão fora da realidade padrão cheia de problemas e afins, enfim, por que eu pareço tão superficial de vez em quando? Por que não falo de política, por que não compro brigas, por que sou assim? Por que você é assim, Nathalie?
               Bom, vamos lá.
               Eu acho que o mundo tem problema demais. Todo mundo acha isso, mas eu realmente defendo essa ideia de que o planeta tá sobrecarregado, tá faltando solução e sobrando encrenca nesse mundo que ora se pinta de filme de aventura da sessão da tarde, ora parece um terror japonês. Sou viciada em portais de notícias, em matérias bizarras, em manchetes inimagináveis, mas hoje em dia é tão entediante ligar a televisão ou acessar a web e ver sempre as mesmas coisas, os mesmos absurdos, as mesmas plaquinhas pedindo justiça como se ela estivesse escondida esperando ser solicitada... Quando se trata de política, dispenso bandeiras, heróis, vilões. Tudo que eu quero é liberdade, respeito, honestidade... Essas coisas básicas que a gente não precisa nem pedir, já deviam estar inclusas no pacote. A mulher continua desvalorizada, os animais são tratados como lixo, as crianças continuam sem futuro... É tudo a mesma zona de sempre. Mas se a minha impressão de mim mesma continua um lixo para mim (Deus, que confusão), então pulemos para o próximo parágrafo para mudar esse quadro o quanto antes.
               Eu não tenho animais em casa, mas isso não quer dizer que eu não sofra quando vejo um olhar desamparado na rua ou um bichinho sendo maltratado. Isso não quer dizer que eu não brigue por eles quando devo brigar. E se não tenho animais, é porque acredito que eles sejam como filhos, e no momento não tenho estrutura para cuidar devidamente de um. Sou a favor da legalização do aborto – por uma questão de saúde pública. Ninguém deve julgar a decisão do outro por uma razão bem simples: cada um sabe de si. Ah, e essa de colocar Deus no meio nunca resolve. Para de usá-lo como justificativa pra tudo e deixa Ele te dar sabedoria, vai. Também sou a favor da legalização da maconha. Não, não sou usuária e sinceramente não tenho a menor curiosidade a respeito do seu uso, mas também meto a possível desculpa da saúde pública no meio – e não, não é desculpa. Eu era contra porque fui criada para ser contra, mas a partir do momento em que você ganha senso crítico e aprende a enxergar as coisas como elas realmente são, bom, você muda de opinião. Sou a favor do casamento gay, e realmente acredito que todo ser humano seja bissexual. Até aqui nunca me senti atraídas por pessoas do meu sexo, mas vai que um dia eu me apaixono por uma mulher, meu Deus? Vai ter algum raio de problema nisso? Acho que o amor é coisa forte e pura demais pra se rotular. Não aceito viver numa sociedade em que eu não possa andar de mãos dadas com uma amiga ou com a minha própria mãe na rua por medo de apanhar. Também não aceito ser olhada da forma mais nojenta possível por algum marmanjo que cruze a mesma calçada que eu. A raiva que me dá é indescritível. Toda mulher já passou por alguma situação de abuso na vida, e não dá pra ficar medindo esforços pra deter esse tipo de coisa. Me revolta ler alguma notícia sobre violência. Assim como me revolta ver gente que paga na mesma moeda, como se fosse resolver alguma coisa. Sou contra a redução da maioridade penal, o porte de armas, a morte do Jon Snow e essa barra que é gostar de você.
               Ah, e sou vercillete. Mas isso já não é novidade (o que não tira a importância dessa informação).
               No mais, prefiro continuar falando da vida, da gente, de amor, de dor, de coisas que eu gosto, da madrugada, da lua, da primavera, enfim, dessas coisas que vocês acham bobinhas, mas que são extremamente necessárias pra que a gente pare e pegue no compasso de vez em quando.
               É isso. 
(Ouça Para não dizer que não falei das flores, Geraldo Vandré) 

(Tumblr)

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