Parei para ouvir o álbum novo do Tiago Iorc, “Troco likes”.
Para quem não o conhece, é um menino simpático que vez ou outra canta alguma
música que vai parar na trilha sonora de alguma novela. O primeiro álbum completamente
em português – ok, há um bônus, em inglês, por sinal. Bom, sem críticas – até porque
não consigo criticar algo que amo.
A questão não é a potência da voz, a técnica, o arranjo,
essas coisas. Não ligo pra nada disso. Não no momento. Não ligo para filtros,
legendas fofinhas, hashtags, essas coisas. Acho que consegui me deixar levar
pelo espírito do álbum mais do que gostaria. Um comentário é obrigatório para
que esse texto chegue a algum lugar: o nome do cd, uma brincadeira com uma das
frases mais insuportáveis em tempos de Instagram (e todas as outras redes). Foi
uma das coisas mais perspicazes que já vi por aí – e olha que eu sou uma
caçadora de perspicácia. Bom, eu tento ser.
Quase todas as canções desse disco levam uma camada extra de
autorreflexão. Músicas que fazem pensar e não são chatas: o cara merece um
prêmio. Mas pensar sobre o quê? Sobre o nosso descontrole ao usar as redes
sociais (meu Deus, que termo mais chato)? Sobre a forma como nos isolamos, e
principalmente sobre a incrível habilidade de enxergamos o mundo através da
câmera do celular? Sim, mas não é só isso. Pensar sobre o somos, sobre o que
nos tornamos, sobre o que cultivamos e queremos. Perfeitos? Não, apenas cheios
de filtros. A perfeição leva moldura e ainda vem com a opção “esmaecer”. Ajuste
a cor, a temperatura, o contraste. Pese na saturação. Escolha o melhor ângulo.
Congele. Fique ligado, afinal a foto não dura a vida inteira.
A foto não dura a vida inteira. Eita.
Aí a gente percebe que virou fantoche. Entramos numa
fantasia vazia, criamos um mundo paralelo onde o que interessa é ser curtido,
compartilhado, comentado – falem mal de mim, mas falem. Polêmica, meme,
trollagem. Essa rotina cansa, e essa última frase não poderia ter sido mais
clichê.
Penso em me afastar um pouco dessas tais redes. Sei lá, por
um tempo. Uma desintoxicação – talvez seja uma forma de me encontrar comigo
mesma, e então largar a câmera, o vício em megapixels, a contagem de curtidas.
Viver com meus próprios olhos. Me entregar ao que não conheço, e que não se
esconde por trás das telas – sentimentos, talvez. Dar uma segurada na miopia,
porque já chega de ver meu grau disparar e de levar bronca do médico. Controlar
a tal da ansiedade. Parar de roer as unhas. Deixar de me preocupar, de correr
atrás daquele bonitinho que curtiu meu status ou que botou uma carinha feliz no
meu perfil. Economizar a bateria do celular. Fazer a vida valer, e então sorrir
sem precisar forçar a barra. Sorrir por sorrir. Ou não. Ser dona de mim, do que
sinto, do que quero. Não mais me sentir um robô.
Eu devo estar
viajando, admito. Devo estar desbravando um mundo dentro de mim que não
conheço, que não entendo, que até outro dia não me dizia respeito. Passei a
olhar pra dentro de mim, e acho que fiz um ótimo negócio. Essa coisa de mudar
de opinião é o que faz tudo valer a pena, e por enquanto, a minha fica assim,
guardadinha num post lido por poucos (mas não menos especiais).
Obrigada, Tiago. Se puder, me siga de volta. Mas cuidado:
ainda não sei para onde vou.
(Ouça Sol que me faltava, Tiago
Iorc)
(Tumblr)
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