domingo, 19 de julho de 2015

Sem retoques

Parei para ouvir o álbum novo do Tiago Iorc, “Troco likes”. Para quem não o conhece, é um menino simpático que vez ou outra canta alguma música que vai parar na trilha sonora de alguma novela. O primeiro álbum completamente em português – ok, há um bônus, em inglês, por sinal. Bom, sem críticas – até porque não consigo criticar algo que amo.
A questão não é a potência da voz, a técnica, o arranjo, essas coisas. Não ligo pra nada disso. Não no momento. Não ligo para filtros, legendas fofinhas, hashtags, essas coisas. Acho que consegui me deixar levar pelo espírito do álbum mais do que gostaria. Um comentário é obrigatório para que esse texto chegue a algum lugar: o nome do cd, uma brincadeira com uma das frases mais insuportáveis em tempos de Instagram (e todas as outras redes). Foi uma das coisas mais perspicazes que já vi por aí – e olha que eu sou uma caçadora de perspicácia. Bom, eu tento ser.
Quase todas as canções desse disco levam uma camada extra de autorreflexão. Músicas que fazem pensar e não são chatas: o cara merece um prêmio. Mas pensar sobre o quê? Sobre o nosso descontrole ao usar as redes sociais (meu Deus, que termo mais chato)? Sobre a forma como nos isolamos, e principalmente sobre a incrível habilidade de enxergamos o mundo através da câmera do celular? Sim, mas não é só isso. Pensar sobre o somos, sobre o que nos tornamos, sobre o que cultivamos e queremos. Perfeitos? Não, apenas cheios de filtros. A perfeição leva moldura e ainda vem com a opção “esmaecer”. Ajuste a cor, a temperatura, o contraste. Pese na saturação. Escolha o melhor ângulo. Congele. Fique ligado, afinal a foto não dura a vida inteira.
A foto não dura a vida inteira. Eita.
Aí a gente percebe que virou fantoche. Entramos numa fantasia vazia, criamos um mundo paralelo onde o que interessa é ser curtido, compartilhado, comentado – falem mal de mim, mas falem. Polêmica, meme, trollagem. Essa rotina cansa, e essa última frase não poderia ter sido mais clichê.
Penso em me afastar um pouco dessas tais redes. Sei lá, por um tempo. Uma desintoxicação – talvez seja uma forma de me encontrar comigo mesma, e então largar a câmera, o vício em megapixels, a contagem de curtidas. Viver com meus próprios olhos. Me entregar ao que não conheço, e que não se esconde por trás das telas – sentimentos, talvez. Dar uma segurada na miopia, porque já chega de ver meu grau disparar e de levar bronca do médico. Controlar a tal da ansiedade. Parar de roer as unhas. Deixar de me preocupar, de correr atrás daquele bonitinho que curtiu meu status ou que botou uma carinha feliz no meu perfil. Economizar a bateria do celular. Fazer a vida valer, e então sorrir sem precisar forçar a barra. Sorrir por sorrir. Ou não. Ser dona de mim, do que sinto, do que quero. Não mais me sentir um robô.
   Eu devo estar viajando, admito. Devo estar desbravando um mundo dentro de mim que não conheço, que não entendo, que até outro dia não me dizia respeito. Passei a olhar pra dentro de mim, e acho que fiz um ótimo negócio. Essa coisa de mudar de opinião é o que faz tudo valer a pena, e por enquanto, a minha fica assim, guardadinha num post lido por poucos (mas não menos especiais).
Obrigada, Tiago. Se puder, me siga de volta. Mas cuidado: ainda não sei para onde vou. 

(Ouça Sol que me faltava, Tiago Iorc)


(Tumblr)

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