Engraçado como as melhores ideias do
mundo surgem justamente quando estamos mais ocupados e não podemos alcançar o
bloco de notas para registrar a luz que nos invade o cérebro – até conseguimos
alcançar o tal bloco de notas, mas é como se essas ideias se tornassem
inacessíveis quando resolvemos explorá-las. Engraçado como todos os parágrafos
que começam com a palavra “engraçado” não têm nenhuma graça. Engraçado como
ainda insistimos nesse jogo de perguntas sem respostas, como ainda nos jogamos
dos mesmos penhascos, como somos esquisitos, entediantes, entediados. Como
ainda nos iludimos... Ah, deve ser por isso que somos engraçados, por causa da
eterna tragédia de ser. A graça está na queda, no tropeço, na ferida aberta, no
alheio. Apontar é tão engraçado... Julgar, padronizar, ditar regras, fingir que
se tem um poder imaginário sobre todas as coisas... Como somos ridículos!
Patéticos! Como pode a vida ser um circo!
Hoje
eu não quero ser engraçada. Não quero fazer piadas involuntárias, nem mesmo
colocar um nariz de palhaço e fazer alguém rir até a barriga doer. A madrugada
me faz pensar que não preciso disso, não preciso de plateia, de risadas, de
eternas (e insuportáveis) palhaçadas. A audiência pra mim já não tem mais
graça. Eu quero é curtir um bom drama, rever umas memórias, quem sabe voltar ao
último réveillon... Eu gosto de réveillons. Gosto de tudo que é novo – mesmo sendo
velho, o que é estranho, mas não chega a ser engraçado, ainda bem. O dia em que
eu me acabei de sambar no meio da rua, fechei os olhos e deixei a música levar
meu corpo da forma mais sutil e menos poética que existe. O dia em que o céu se
fez colorido em plena noite, e os cachorros gritavam de pavor, coitados. Quanto
riso, quanta alegria. O mundo gira e eu nem saí do chão. Tudo vira confete, e
olha que o carnaval nem começou. Tudo é tão patético... É tão simples... É
tão... É tão forte! É o que é. Engraçado, dramático, sofrível... É a vida. E o
mais estranho é que ela é tosca, grotesca, uma ogra. E mesmo assim é a nossa
menina dos olhos.
Pensando
bem, hoje eu dispenso todo e qualquer adjetivo – até mesmo aquele “gostosa” básico,
bom, talvez esse mais ainda. Eu não quero nada que alimente minha vaidade ou
minha vontade de cortar os pulsos. Eu só quero ser eu. Deitar na cama, relaxar,
terminar aquele livro que eu empurro com a barriga há meses, falar com Deus,
esticar bem as pernas, pôr minha máscara, agarrar minha almofada e dormir,
dormir até a última gota, até o último suspiro, até o último ronco que me for
possível roncar – ai meu Deus, será que eu ronco?
Topo
sonhar. Com uma cena de Chaplin. Com uma lágrima de novela. Com um réveillon.
Topo repetir sonhos, palavras, rimas... Todo o ritual. Sempre. Eu não me
importo. Eu só quero que essas luzes lá de fora brilhem mais do que eu – e isso
não é modéstia, é egoísmo mesmo.
Que
o dia termine bem.
Que nada termine, pensando bem.
(Ouça Errática, Gal Costa)
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