Preciso
confessar: não dava muita coisa por “O jogo do anjo”. Acho que não fui muito
com a capa... Mas li porque o PDF me caiu de paraquedas, e eu, aventureira que
sou, fui ver o que me aguardava. Acho que comecei a pesquisar sobre o autor
antes da página 10 – não me aprofundei muito, foi só pra saber se ainda estava
vivo, coisa de leitora. E então um romance obscuro, com toques góticos,
profanos e arrebatadores, me foi surgindo. Um tipo de literatura a qual não
estou acostumada, confesso novamente. Gosto das memórias do Sabino, das
lamúrias do Buarque, das críticas do Saramago... Mas aí me surge um espanhol
que pinta uma Barcelona cheia de mistérios com personagens que eu ainda não sei
adjetivar. E eu acabo me apaixonando.
Pra
mim, a estrela da história não é o suspense que prende o leitor – as sequências
de ação são muito bem narradas. Nem mesmo a história de amor entre Martín e
Cristina – essa, aliás, é uma dessas personagens que a gente não gosta, mas
atura porque a história é boa, fazer o que. O que mais me prendeu foi a dose
caprichada de metalinguagem que Carlos Ruiz Zafón jogou na receita. É perigoso
escrever histórias que contam com escritores como protagonistas, mas essa foi
tão sutilmente costurada que chega a ser brilhante.
Já
me disseram que esse livro faz parte de uma trilogia do Zafón. Quem me conhece
sabe que não sou lá fã de trilogias – essa coisa de ter que ler a outra parte me
dá um pouquinho de preguiça. E não sei se precisarei de sequências para
entender o que “O jogo do anjo” me ensinou: o livro tem alma. As palavras têm
alma. Não podemos brincar com elas. Não podemos brincar com a nossa história,
seja ela escrita ou não.
Digo
também que me identifiquei muito com a escrita do espanhol. Às vezes exagerada,
às vezes padronizada, às vezes humorística... Mas invejo (com todo respeito e
tom de “brincadeirinha” que me são permitidos) o talento para a ficção que o
autor possui.
Sim,
pretendo ler seus outros livros. Não para seguir sequências. Mas para dar
ênfase ao que o protagonista David Martín (ou o senhor Sempere, agora não me
lembro) me disse em alguma das quatrocentas e quarenta e nove páginas do livro:
enquanto houver que leia, haverá história, haverá autor, haverá o que ser dito.
E não é só o autor que tem um compromisso de sangue com as letras. O mesmo se
dá com nós, leitores.
(Ouça Details in the fabric, Jason Mraz)
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