Após
uma baita decepção com “O lado bom da vida” – até que o livro estava indo bem,
mas o filme me fez interromper a leitura na hora; nem Bradley Cooper foi capaz
de me fazer ver até o final – resolvi ler “Mulheres”, Eduardo Galeano. Para ser
sincera, não estava lá muito animada; há tempos que não leio algo que realmente
me excita em termos literários, acho que a última coisa “maravilhosa” que li
foi “A estrada da noite”. Mas sim, resolvi ler essa obra de Galeano porque meu
dedo de uni-duni-tê parou justamente nele. E sabe como é, eu acredito piamente
nessas forças sobrenaturais.
São
132 páginas recheadas de contos curtos, curtinhos mesmo, curtíssimos. Alguns
não ocupam nem metade da página. Mas se tem uma coisa que o leitor aprende
desde pequenininho (ou desde o primeiro bom livro que lê) é que, não importa o
tamanho da história, se tem muitas ou poucas linhas. Aliás, refazendo a frase
anterior: o tamanho de uma obra não é medido em linhas, mas sim na sua
profundidade, nos caminhos que dá ao leitor.
Graças
a Galeano, conheci mulheres incríveis. Guerreiras, mães, filhas, ninfas...
Mulheres normais. Tão normais que passam por nós na rua e nem percebemos. Que
passam pelo meu espelho e eu nem percebo.
A
verdade é essa: há infinitas mulheres dentro de uma só – e isso, meus amigos,
por mais clichê que pareça, é a mais pura verdade. Acho que devíamos ser
cuidadosamente estudadas por cientistas coordenados por poetas. Talvez assim
consigam nos entender. O que nos permite ser tantas em uma só? A força.
Nascemos com uma força insuperável, fora do comum. Nascemos com o dom de ser
quem quisermos ser, independente do espaço, do tempo, da situação. Somos tão
ricas em energia, nossa capacidade de nos reinventarmos e de nos levantarmos de
todas as quedas, de darmos a nossa outra face mesmo quando não há mais nenhuma
face a ser dada (como em “Rigoberta”, p. 107)... Mulheres caem a todo instante.
E quanto mais caem, mais se levantam. Ô raça!
Acabei
pensando em outras mulheres conhecidas da literatura. Ando pensando em Macbeth
que, apesar do fim trágico após os atos cruéis que cometeu, possuía uma força
inigualável. Também pensei em Julieta, outra de Shakespeare, aquela que
entregou sua vida ao amor, e nossa, essa filha da mãe transborda em mim. A
intrusa de Júlia Lopes de Almeida, meu Deus, que mulher forte, corajosa,
maternal. Capitu e sua sensualidade que arrepiava todos os pelos presentes no
corpo de Bentinho. Lispector, entorpecida pela humanidade, voou num céu de
nuvens cinzas que ninguém quis enfrentar. E tantas, tantas outras que ainda hei
de conhecer, e hei de descobrir dentro de mim.
Eu sou mulher, e me identifiquei
tanto com todos os contos tão lindamente rendados por Galeano... De revoluções
a rotinas, de opressões a “libertações”... Descobri que somos perseguidas
porque realmente somos perfeitas, e o tipo de perfeição que cito não é a celestial
nem mesmo a que nos reverenciam em noites de amor que, infelizmente, são
interrompidas pela manhã. É uma perfeição tão inacreditável que não somos
capazes de descrever, de definir.
Não somos santas, não somos
putas. Somos livres, mesmo com todas as correntes.
(Ouça Toda espera, Jorge Vercillo)
(Vicente Romero Redondo)
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