sábado, 22 de novembro de 2014

Ensaiando opiniões: ode às mulheres, por Eduardo Galeano



               Após uma baita decepção com “O lado bom da vida” – até que o livro estava indo bem, mas o filme me fez interromper a leitura na hora; nem Bradley Cooper foi capaz de me fazer ver até o final – resolvi ler “Mulheres”, Eduardo Galeano. Para ser sincera, não estava lá muito animada; há tempos que não leio algo que realmente me excita em termos literários, acho que a última coisa “maravilhosa” que li foi “A estrada da noite”. Mas sim, resolvi ler essa obra de Galeano porque meu dedo de uni-duni-tê parou justamente nele. E sabe como é, eu acredito piamente nessas forças sobrenaturais.
               São 132 páginas recheadas de contos curtos, curtinhos mesmo, curtíssimos. Alguns não ocupam nem metade da página. Mas se tem uma coisa que o leitor aprende desde pequenininho (ou desde o primeiro bom livro que lê) é que, não importa o tamanho da história, se tem muitas ou poucas linhas. Aliás, refazendo a frase anterior: o tamanho de uma obra não é medido em linhas, mas sim na sua profundidade, nos caminhos que dá ao leitor.
               Graças a Galeano, conheci mulheres incríveis. Guerreiras, mães, filhas, ninfas... Mulheres normais. Tão normais que passam por nós na rua e nem percebemos. Que passam pelo meu espelho e eu nem percebo.
               A verdade é essa: há infinitas mulheres dentro de uma só – e isso, meus amigos, por mais clichê que pareça, é a mais pura verdade. Acho que devíamos ser cuidadosamente estudadas por cientistas coordenados por poetas. Talvez assim consigam nos entender. O que nos permite ser tantas em uma só? A força. Nascemos com uma força insuperável, fora do comum. Nascemos com o dom de ser quem quisermos ser, independente do espaço, do tempo, da situação. Somos tão ricas em energia, nossa capacidade de nos reinventarmos e de nos levantarmos de todas as quedas, de darmos a nossa outra face mesmo quando não há mais nenhuma face a ser dada (como em “Rigoberta”, p. 107)... Mulheres caem a todo instante. E quanto mais caem, mais se levantam. Ô raça!
               Acabei pensando em outras mulheres conhecidas da literatura. Ando pensando em Macbeth que, apesar do fim trágico após os atos cruéis que cometeu, possuía uma força inigualável. Também pensei em Julieta, outra de Shakespeare, aquela que entregou sua vida ao amor, e nossa, essa filha da mãe transborda em mim. A intrusa de Júlia Lopes de Almeida, meu Deus, que mulher forte, corajosa, maternal. Capitu e sua sensualidade que arrepiava todos os pelos presentes no corpo de Bentinho. Lispector, entorpecida pela humanidade, voou num céu de nuvens cinzas que ninguém quis enfrentar. E tantas, tantas outras que ainda hei de conhecer, e hei de descobrir dentro de mim.
Eu sou mulher, e me identifiquei tanto com todos os contos tão lindamente rendados por Galeano... De revoluções a rotinas, de opressões a “libertações”... Descobri que somos perseguidas porque realmente somos perfeitas, e o tipo de perfeição que cito não é a celestial nem mesmo a que nos reverenciam em noites de amor que, infelizmente, são interrompidas pela manhã. É uma perfeição tão inacreditável que não somos capazes de descrever, de definir.
Não somos santas, não somos putas. Somos livres, mesmo com todas as correntes.

(Ouça Toda espera, Jorge Vercillo) 

                                                                                                (Vicente Romero Redondo)

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