Ensino-te a fazer poema
como se faz uma panela de arroz.
Primeiro se doura o alho,
solta-se aquele cheiro,
então se joga o arroz.
Faz-se barulho,
estalo de queimado,
mas não ligue,
poemas e arroz são sempre assim.
Quando o estalo vier
jogue água,
muita água
afogue seus grãos e suas palavras
até agonizarem.
Por fim, se ainda restar água
se ainda restar mágoa
é porque está cru;
volte a cozinhar
até o arroz se aprontar
até o poema vingar.
Mas não se esqueça do sal
em nenhum dos dois;
até porque se é pra morrer
que seja então do coração.
(Ouça Vatapá, Dorival Caymmi)
(Tumblr)
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