Preciso
confessar que, enquanto escrevia esse texto, uns litros de lágrimas caíam. Mas
pra mim, melhor que lenço pra secar os olhos só mesmo uma folha de papel e
umas boas centenas de palavras.
Eu
resolvi pensar nas escolhas que a gente faz pra vida. Eu, por exemplo, já fiz
tantas escolhas... E já desisti de mais da metade delas. Um dia eu quis ser
médica porque achava legal usar jaleco. Outro dia quis ser atriz porque eu
tinha mania de brincar de estar na TV, de pular, de fazer coisas que só os artistas
fazem – não, isso não faz de mim uma artista. Um dia eu quis ser bailarina, sabe? Mas nossa, como aquelas
sapatilhas me incomodaram quando as coloquei. Aí eu decidi fazer Ciências Políticas.
E essa foi a minha melhor desistência.
Hoje
eu sou qualquer coisa. Não sou petista, tucana, pmdbista, ecologista,
comunista, capitalista, elitista, estilista, narcisista, flamenguista,
escafandrista. Não sigo bandeiras – nem a branca porque, vamos combinar, dá
muito trabalho pra lavar. Não suporto rótulos; eu sei do que gosto, eu sei de
quem gosto, não preciso que me coloquem numa prateleira e digam o que sou ou a
que classe pertenço. Porque eu não tenho classe. Eu não gosto de usar salto, só
faço escova porque bem sei que meus cabelos armados são altamente violentos e
amedrontadores, não peço obséquios nem conto causos, não, às vezes eu falo
alto, conto piada sem graça, choro até o rímel fazer um craquelê no meu rosto,
borro o batom com beijos, roo as unhas, tenho tiques, falo sozinha, canto como
se tivesse uma bela voz (e eu sei que não tenho, não precisa me dizer), ah,
essas coisas que a gente confessa pro diário achando que só a gente tem, só a
gente faz... Mas é assim com todo mundo. Eu não sou uma garota de revista. Nem
sou aquela garotinha esperando o ônibus da escola sozinha. Também não vivo num
mundo paralelo onde pessoas são animais e animais são pessoas, assim como no
mar os banhistas são os pedestres, e os barcos são como os carros, e as motos
são como os jet skis... Sai daqui, Grael, por favor.
O
que me faz única não é o que eu vivi, nem mesmo o que vou viver. Meus sonhos
também não me fazem única – apesar dessa afirmação não me fazer desistir deles,
pelo contrário. O que me faz ser bem mais do que mais uma na multidão são as
minhas escolhas. Eu não escolhi esperar. Nada. Eu não espero por escolha, o que
eu espero é só pra respeitar o tempo, não gosto de arranjar problemas com ele.
Eu escolhi estar aqui, escrevendo para não chorar. Escolhi as pessoas que quero
do meu lado, e eu as amo tanto que as escolheria antes de escolher a mim
mesma... Até porque eu nunca fui uma escolha pra mim. Eu nasci assim, eu cresci
assim, e com mais um pouco de sorte eu nascia Gabriela cravo e canela, mas não
deu, fica pra próxima – pelo menos não nasci Capitu com seus problemas e
injustiças. Eu escolhi amar antes de qualquer coisa. Porque quando eu amo, eu
tenho orgulho de mim – mas não é um orgulho vaidoso, não, é algo que me deixa
feliz por eu ser eu mesma... Amar o próximo faz com que eu me ame. Essa
capacidade é divina, e eu não me entreguei a ela porque quero ser santa. O amor
me escolheu, e é por isso que às vezes eu derrapo no romantismo ou nas lágrimas
insensatas, como essas. E se quem eu amo não me priorizar... Tudo bem, eu
entendo, eu respeito, não deixarei de amar. Só peço que, se me amar, me escolha
também. Não me importo com esse “também”... Desde que eu esteja na sua lista,
está tudo bem.
Eu
escolho fazer o bem. Escolho deixar de lado o preconceito, escolho conhecer o
que é novo, me jogar sem esperar meu corpo cair no chão. Quando eu me jogo, eu
voo. É um pássaro? É um avião? É mais um super-herói lindo porém cheio de problemas no divã? Não, é só mais uma louca que
resolveu se entregar. Vai entender!
Eu
quero mesmo é fazer tudo que não fiz. Essa é outra escolha minha. Fazer tudo
diferente. Ter planos diferentes. Não ter planos, deixar tudo acontecer, sem
deixar de lutar pra que o cronograma da vida siga o cronograma dos meus sonhos.
Escolho
quem segue comigo, o que segue comigo, o que me faz ser quem sou. Escolho quem
não há de seguir ao meu lado; como eu disse a uma grande amiga um dia desses,
sou alérgica a quem se recusa crescer. Eu quero mesmo é ser bem grande... Sem
deixar de ser pequena, um grão de areia no deserto, mais uma entre tantas
outras. Escolho ser humana.
E então, quando não houver mais
nenhuma escolha a fazer, quando for a vez da morte me escolher... Que eu morra
feliz. Irritada, porque esse negócio de escolher é difícil, mas é bom. Irritada
também por não poder mais fazer o que a gente não escolhe: sentir – talvez essa
seja a pior parte. Mas desde que eu morra linda, loira e serena como a Bela
Adormecida, está tudo ótimo. Se eu morrer feia também, tá tudo bem. Desde que não
coloquem espelho no meu caixão, lógico.
De
repente, nasceu o sorriso que faltava em mim. Deve ser porque, do nada, eu
escolhi sorrir.
(Ouça , The end where I begin, The Script)

(Tumblr)
Que texto bacana! A vida sempre será o resultado de nossas escolhas ;)
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