Eu tenho medo das aspas
das loucuras de se meter entre
pontos
entre paredes
entre duas paredes
talvez porque eu prefira quatro
paredes
que não segurem minhas ideias
pelo contrário:
que as deixem respirar.
Eu tenho medo das aspas
que coloco em versos que não são
meus
que meus dedos encarnam ao mesmo
tempo em que minha testa se enruga
e eu me sinto nua quando não uso
aspas
talvez porque eu não suporte a
fantasia das entrelinhas
a ironia
a inverdade da inversão
a inverdade das paredes
desse projeto de parênteses
desse casal unido pelo amor
e pela minha sentença.
Eu tenho medo das aspas
mas descobri que elas são coelhos
que eu faço com a sombra dos meus
dedos na parede branca
eu mato meus coelhos com uma
cajadada só:
a minha verdade obscura
a minha tolice secreta
a minha primavera em forma de
inverno
em forma de inferno
em forma de ideia
que eu ouso emparedar só para
assustar
para incomodar
para enlouquecer meus dedos
meus pontos
meus acentos.
Eu tenho medo das aspas
porque elas têm medo de mim;
me prenderam no meio delas
e me deixaram assim.
(Ouça Wrong, EBTG)
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