sábado, 23 de agosto de 2014

Escolhas



               Preciso confessar que, enquanto escrevia esse texto, uns litros de lágrimas caíam. Mas pra mim, melhor que lenço pra secar os olhos só mesmo uma folha de papel e umas boas centenas de palavras.
               Eu resolvi pensar nas escolhas que a gente faz pra vida. Eu, por exemplo, já fiz tantas escolhas... E já desisti de mais da metade delas. Um dia eu quis ser médica porque achava legal usar jaleco. Outro dia quis ser atriz porque eu tinha mania de brincar de estar na TV, de pular, de fazer coisas que só os artistas fazem – não, isso não faz de mim uma artista. Um dia eu quis ser  bailarina, sabe? Mas nossa, como aquelas sapatilhas me incomodaram quando as coloquei. Aí eu decidi fazer Ciências Políticas. E essa foi a minha melhor desistência.
               Hoje eu sou qualquer coisa. Não sou petista, tucana, pmdbista, ecologista, comunista, capitalista, elitista, estilista, narcisista, flamenguista, escafandrista. Não sigo bandeiras – nem a branca porque, vamos combinar, dá muito trabalho pra lavar. Não suporto rótulos; eu sei do que gosto, eu sei de quem gosto, não preciso que me coloquem numa prateleira e digam o que sou ou a que classe pertenço. Porque eu não tenho classe. Eu não gosto de usar salto, só faço escova porque bem sei que meus cabelos armados são altamente violentos e amedrontadores, não peço obséquios nem conto causos, não, às vezes eu falo alto, conto piada sem graça, choro até o rímel fazer um craquelê no meu rosto, borro o batom com beijos, roo as unhas, tenho tiques, falo sozinha, canto como se tivesse uma bela voz (e eu sei que não tenho, não precisa me dizer), ah, essas coisas que a gente confessa pro diário achando que só a gente tem, só a gente faz... Mas é assim com todo mundo. Eu não sou uma garota de revista. Nem sou aquela garotinha esperando o ônibus da escola sozinha. Também não vivo num mundo paralelo onde pessoas são animais e animais são pessoas, assim como no mar os banhistas são os pedestres, e os barcos são como os carros, e as motos são como os jet skis... Sai daqui, Grael, por favor.
               O que me faz única não é o que eu vivi, nem mesmo o que vou viver. Meus sonhos também não me fazem única – apesar dessa afirmação não me fazer desistir deles, pelo contrário. O que me faz ser bem mais do que mais uma na multidão são as minhas escolhas. Eu não escolhi esperar. Nada. Eu não espero por escolha, o que eu espero é só pra respeitar o tempo, não gosto de arranjar problemas com ele. Eu escolhi estar aqui, escrevendo para não chorar. Escolhi as pessoas que quero do meu lado, e eu as amo tanto que as escolheria antes de escolher a mim mesma... Até porque eu nunca fui uma escolha pra mim. Eu nasci assim, eu cresci assim, e com mais um pouco de sorte eu nascia Gabriela cravo e canela, mas não deu, fica pra próxima – pelo menos não nasci Capitu com seus problemas e injustiças. Eu escolhi amar antes de qualquer coisa. Porque quando eu amo, eu tenho orgulho de mim – mas não é um orgulho vaidoso, não, é algo que me deixa feliz por eu ser eu mesma... Amar o próximo faz com que eu me ame. Essa capacidade é divina, e eu não me entreguei a ela porque quero ser santa. O amor me escolheu, e é por isso que às vezes eu derrapo no romantismo ou nas lágrimas insensatas, como essas. E se quem eu amo não me priorizar... Tudo bem, eu entendo, eu respeito, não deixarei de amar. Só peço que, se me amar, me escolha também. Não me importo com esse “também”... Desde que eu esteja na sua lista, está tudo bem.
               Eu escolho fazer o bem. Escolho deixar de lado o preconceito, escolho conhecer o que é novo, me jogar sem esperar meu corpo cair no chão. Quando eu me jogo, eu voo. É um pássaro? É um avião? É mais um super-herói lindo porém cheio de problemas no divã? Não, é só mais uma louca que resolveu se entregar. Vai entender!
               Eu quero mesmo é fazer tudo que não fiz. Essa é outra escolha minha. Fazer tudo diferente. Ter planos diferentes. Não ter planos, deixar tudo acontecer, sem deixar de lutar pra que o cronograma da vida siga o cronograma dos meus sonhos.
               Escolho quem segue comigo, o que segue comigo, o que me faz ser quem sou. Escolho quem não há de seguir ao meu lado; como eu disse a uma grande amiga um dia desses, sou alérgica a quem se recusa crescer. Eu quero mesmo é ser bem grande... Sem deixar de ser pequena, um grão de areia no deserto, mais uma entre tantas outras. Escolho ser humana.
E então, quando não houver mais nenhuma escolha a fazer, quando for a vez da morte me escolher... Que eu morra feliz. Irritada, porque esse negócio de escolher é difícil, mas é bom. Irritada também por não poder mais fazer o que a gente não escolhe: sentir – talvez essa seja a pior parte. Mas desde que eu morra linda, loira e serena como a Bela Adormecida, está tudo ótimo. Se eu morrer feia também, tá tudo bem. Desde que não coloquem espelho no meu caixão, lógico.
               De repente, nasceu o sorriso que faltava em mim. Deve ser porque, do nada, eu escolhi sorrir. 

(Ouça , The end where I begin, The Script)


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