domingo, 1 de junho de 2014

Desejos de criança



               Eu quero ser linda, muito linda. Quero ter peito. Quero ter bunda. Quero ter seguidoras e perseguidores.
               Eu quero explorar o mundo. Um escravocrata. Fazer dinheiro desfazendo gente.
               Eu quero cuidar do meio ambiente. Xingar quem joga lixo no lixo. Despoluir as lagoas. Participar de protestos. Mas se meu cachorro fizer cocô na rua... Pelo menos não fez em casa; educado.
               Eu quero me casar de véu e grinalda. Gastar tempo e dinheiro numa festa, e que se dane o resto da vida. Quero estar linda e maravilhosa, quero provocar uma inveja descomunal na população. E se vier crise conjugal, ora, existem terapeutas, amantes, advogados...
               Eu quero ter uma vida confortável. Se eu enjoar, é só esfregar na cara de qualquer pessoa capaz de se morder de ciúmes. Dane-se o mundo lá fora, a violência, os problemas... O que é meu, é meu. Lei da selva; quero ser o leão.
               Eu quero ser feliz. Sorrir o tempo todo. Ter cãibras faciais e psicológicas. Quero viver num eterno final de semana, num eterno parque de diversões, num eterno desenho animado onde tudo é engraçado, inclusive eu. E se me perguntarem o segredo de tanta felicidade, ah, eu digo que é segredo – um segredo tão secreto que nem eu conheço. Que o mundo se exploda num sorriso perfeito. E quando a vida aparecer com uma pegadinha, tipo uma morte, um problema, qualquer resquício de sofrimento, eu quero é apertar um botão que faça tudo de ruim. Quero que essa felicidade cega e desmedida me deixe abobado, me transforme num ser quase desumano de tão esquisito. Não quero saber como se vive, porque viver não me interessa. O que me interessa mesmo é sorrir – até quando eu desconhecer a razão para tanta alegria.

(Ouça Nightvisions, Daft Punk)

 (moon-boy)

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