Eu
quero ser linda, muito linda. Quero ter peito. Quero ter bunda. Quero ter
seguidoras e perseguidores.
Eu
quero explorar o mundo. Um escravocrata. Fazer dinheiro desfazendo gente.
Eu
quero cuidar do meio ambiente. Xingar quem joga lixo no lixo. Despoluir as
lagoas. Participar de protestos. Mas se meu cachorro fizer cocô na rua... Pelo
menos não fez em casa; educado.
Eu
quero me casar de véu e grinalda. Gastar tempo e dinheiro numa festa, e que
se dane o resto da vida. Quero estar linda e maravilhosa, quero provocar uma
inveja descomunal na população. E se vier crise conjugal, ora, existem terapeutas,
amantes, advogados...
Eu
quero ter uma vida confortável. Se eu enjoar, é só esfregar na cara de qualquer
pessoa capaz de se morder de ciúmes. Dane-se o mundo lá fora, a violência, os
problemas... O que é meu, é meu. Lei da selva; quero ser o leão.
Eu
quero ser feliz. Sorrir o tempo todo. Ter cãibras faciais e psicológicas. Quero
viver num eterno final de semana, num eterno parque de diversões, num eterno
desenho animado onde tudo é engraçado, inclusive eu. E se me perguntarem o
segredo de tanta felicidade, ah, eu digo que é segredo – um segredo tão secreto
que nem eu conheço. Que o mundo se exploda num sorriso perfeito. E quando a
vida aparecer com uma pegadinha, tipo uma morte, um problema, qualquer
resquício de sofrimento, eu quero é apertar um botão que faça tudo de ruim.
Quero que essa felicidade cega e desmedida me deixe abobado, me transforme num
ser quase desumano de tão esquisito. Não quero saber como se vive, porque viver
não me interessa. O que me interessa mesmo é sorrir – até quando eu desconhecer
a razão para tanta alegria.
(Ouça Nightvisions, Daft Punk)
(moon-boy)
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