Preciso
te contar uma coisa. Eu ouço vozes.
Elas
me dizem uma porção de coisas que eu não me lembro de ter pedido para ouvir.
Falam do meu cabelo, da minha roupa, da minha pele, de mim. Dizem que eu ando
mais magra, muito magra, que eu sumi – literalmente. Dizem que eu ando gorda,
muito gorda, que eu ando aparecendo demais – ah, que mentira. Que minhas rugas
estão saltando, que meu tempo está acabando, que eu preciso ler o livro do ano,
fazer a dieta do ano, morar na casa do ano, enfim, me prender em anos, em
infinitos anos, planos, ânus. Anos, planos, ânus. Dizem que é assim que a coisa
funciona. Sabe, eu não duvido de nada.
São
vozes que me perseguem em calçadas, corredores, canções, mesas de bar,
reuniões. Que dizem por aí que eu não presto, que minha vida se perdeu no
meio de tantas outras. Que eu não sou ninguém. Que apontam supostas falsidades,
esquisitices, falências. Que lutam para que eu sinta vergonha de mim.
Dizem
por aí que eu ando na pior – aliás, dizem as más línguas, eu mal ando.
Realmente. Nos últimos dias eu tenho é voado. Pra bem longe daqui.
A
vida voa. Assim como a voz deve voar pelo ar, que se faz de céu imaginário,
invisível, seja lá o que for. As vozes que ouço não me assustam nem me
detonam, ah, pelo contrário: elas simplesmente me irritam. Irritação passageira; logo aparece uma goteira que me toma a atenção. As más línguas
falam. As boas beijam.
Portanto,
aqui vai um recado para você que passou por mim e não gostou do que viu – sem solicitar
o uso do senhor recalque ou de outras artimanhas dispensáveis: relaxa, isso é normal. Eu
também não sou lá minha fã número um.
Mas,
dizem por aí, fanatismo é doença.
Eu
ouço vozes, e elas não me ouvem. Mas que se dane; como eu já disse, as más línguas
falam, enquanto as boas beijam.
(Ouça fuck you, Lily Allen)
(huebucket)
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