segunda-feira, 16 de junho de 2014

Dizem por aí



            Preciso te contar uma coisa. Eu ouço vozes.
            Elas me dizem uma porção de coisas que eu não me lembro de ter pedido para ouvir. Falam do meu cabelo, da minha roupa, da minha pele, de mim. Dizem que eu ando mais magra, muito magra, que eu sumi – literalmente. Dizem que eu ando gorda, muito gorda, que eu ando aparecendo demais – ah, que mentira. Que minhas rugas estão saltando, que meu tempo está acabando, que eu preciso ler o livro do ano, fazer a dieta do ano, morar na casa do ano, enfim, me prender em anos, em infinitos anos, planos, ânus. Anos, planos, ânus. Dizem que é assim que a coisa funciona. Sabe, eu não duvido de nada.
            São vozes que me perseguem em calçadas, corredores, canções, mesas de bar, reuniões. Que dizem por aí que eu não presto, que minha vida se perdeu no meio de tantas outras. Que eu não sou ninguém. Que apontam supostas falsidades, esquisitices, falências. Que lutam para que eu sinta vergonha de mim.
            Dizem por aí que eu ando na pior – aliás, dizem as más línguas, eu mal ando. Realmente. Nos últimos dias eu tenho é voado. Pra bem longe daqui.
            A vida voa. Assim como a voz deve voar pelo ar, que se faz de céu imaginário, invisível, seja lá o que for. As vozes que ouço não me assustam nem me detonam, ah, pelo contrário: elas simplesmente me irritam. Irritação passageira; logo aparece uma goteira que me toma a atenção. As más línguas falam. As boas beijam.
            Portanto, aqui vai um recado para você que passou por mim e não gostou do que viu – sem solicitar o uso do senhor recalque ou de outras artimanhas dispensáveis: relaxa, isso é normal. Eu também não sou lá minha fã número um.
            Mas, dizem por aí, fanatismo é doença.
            Eu ouço vozes, e elas não me ouvem. Mas que se dane; como eu já disse, as más línguas falam, enquanto as boas beijam. 

(Ouça fuck you, Lily Allen) 

(huebucket)

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