Luiza, 2 anos.
A
bebê mais bonita do berçário nos deixou neste domingo festivo de junho. Foi
tranquila, serena e com aparência feliz – mas dormiu antes da hora dos parabéns.
O tempo passou rápido, e seus pais sentirão saudades de seus choros
progressivos durante a noite, de suas golfadas e de trocar suas fraldas.
Deixará saudades.
Luiza, 6 anos.
Este
é mais um mês de junho comovente. A doce Luiza de seis anos nos deixa após anos
de fofices e cute-cutes para os parentes – as focices continuam, mas agora
Luiza é uma mocinha. A menininha de maria-chiquinha e que não se preocupava em
cruzar as pernas ou ajeitar a saia se vai deixando um rastro de saudade e outro
de curiosidade.
Luiza, 12 anos.
Após
longa espera, a criança nos deixa com uma estranha pré-adolescente. Nunca mais
teremos festas infantis. Nunca mais iremos ao cinema ver desenhos. Nunca mais
brincaremos de adedonha. Nunca mais seremos crianças com Luiza no jardim. Nunca
mais os pedidos para raspar a bacia do bolo, para contar uma história antes de
dormir. Saudades eternas.
Luiza, 18 anos.
Antes
de junho chegar, mais uma Luiza foi embora. Despedida inquieta, elétrica, quase
radioativa. A adolescente se foi após longos anos de crises de autoestima e
problemas com o recém-descoberto fluxo menstrual. Nunca mais o controle, as
regras, os castigos, as broncas. Luiza agora é moça, estuda para ser gente,
namora, sai à noite. Mais uma Luiza morta por uma Luiza. Os pais não conseguem
entender tamanha perda - o clima é de tristeza e revolta. Luiza também não entende como o tempo passou rápido, e
a única coisa que faz é jogar uma rosa na lápide de sua antiga versão – além de
sofrer com a agonia da incerteza se conseguirá ou não ocupar o espaço da antiga
Luiza no coração de seus pais. Vá em paz, Luluzinha. Seja bem vinda, senhorita
de nome sério e corpo de mulher.
Luiza, 30 anos.
Mais
uma estrela que parte. A jovem Luiza partiu durante uma crise existencial
ocorrida enquanto via um comercial de absorvente. Deixa seus
vestidos floridos e suas sombras coloridas para trás, além de um bando de
sorrisos tolos. Luiza agora é mais do que adulta: é dos trinta. O incrível mundo do
3.0 – Luiza agora é um automóvel.
Luiza, 50 anos.
A
mulher de trinta nos deixa com lágrimas nos olhos e convites para participar
de comerciais de cremes antirrugas. Luiza parte para o mundo das fotografias,
das lembranças vivas, onde vivem todas as outras Luizas que se sacrificaram
para que essa existisse. A nova Luiza está feliz, porém tem medo da última
despedida.
Luiza, 81 anos.
Em
algum lugar, todas as Luizas dançam e cantam. A família se reúne para uma
despedida – uma despedida que virou recomeço. Luiza vive em todas as memórias –
boas e ruins – que deixou. Foi feliz e fez feliz. Agora, é bem mais que uma,
que duas, que três – as esferas se juntaram, os pedaços se encontraram, os
caminhos se cruzaram.
Luiza
nos deixa. Mas deixa uma canção.
(Ouça Luíza, Tom Jobim - claro, com o coração limpo de clichês)
(Valentina)
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