sábado, 15 de março de 2014

O maior dos clichês



               De repente, um medo estranho. Uma poeira que ataca as narinas e as lágrimas, lágrimas que se jogam de penhascos vivos. Somos penhascos vivos. Já nos jogamos de nós há tempos.
               Um medo louco de se perder. Por essas ruas, esquinas, avenidas congestionadas. Por essas veias entupidas de sangue e suor. Por esses caminhos desconhecidos, por esses vultos travestidos de escolhas, por essas horas loucas, tão loucas quanto o medo sentido.
               Medo de perder... Tudo. Bem mais que perder o “ser”. Medo de perder a cabeça, a firmeza, o coração. As estribeiras são nossas correntes, e não queremos perdê-las – quem disse que liberdade é perder o controle pode não estar tão errado assim. De perder a voz, de não ser ouvido, de passar batido como um ônibus, como um pássaro, como um avião, como o super-homem. Medo de perder a razão, e por isso, comprá-la. Sê-la. Registrá-la em seu nome: ninguém pode tirar a razão de mim.
               Medo de perder a luz. Aquela que te faz acordar toda manhã, que faz cócegas no seu rosto e te provoca um sorriso, que te faz viajar sem carimbar o passaporte. De perder o amor. O seu amor. O sentimento ou o penhasco. O concreto ou o abstrato. Aquele que prende quando devia te soltar, que ninguém sabe como sentir. O que nos faz ceder, o que nos faz agir, o que às vezes nos impede de reagir. O que nos tira do sério – porque talvez não tenhamos nascido pra esse tal de Sério, quem é essa cara que eu não conheço e já detesto pacas?
           O medo faz a gente perder tudo. Principalmente as lágrimas. Elas são as primeiras a desistirem da gente, e saem correndo por aí, pelos nossos poros, pelas nossas rugas, misturam-se aos nossos tiques e desesperam as outras que ficaram, formando uma espécie de tsunami. A gente perde tudo, até a vergonha. Até a identidade... Não, talvez não.
               Porque é no medo que a gente se encontra.
               E então, o susto. Há um sentimento mais clichê que o amor.

(Ouça Sunset, The XX)

(Eelus)

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