domingo, 13 de dezembro de 2015

"Full of dreams"



Uma cabeça cheia de sonhos. Tem que ser muito otimista/sorridente/saltitante/desesperador/desesperado/ para assumir tal característica. Às vezes gótico, contando histórias fantasmagóricas, tentando tirar um fundo de sensualidade de um dia chuvoso e assustador – o mesmo dia em que, nas outras vezes, é cercado de angústia, desespero e lágrimas nada sensuais, acredite. Um dia amarelo, diria a música. Desses em que toda a fragilidade incide – não, pera...
                Desde que o novo disco do Coldplay foi lançado, entrei no mais gostoso conflito que esse grupo tão cheio de conflitudes já me fez entrar. Faz 10 anos que acompanho a banda – sim, foi um começo com um quê esporádico, mas depois que a gente pega gosto pela coisa, fica difícil sair. Foi lá no tristonho X&Y (que caiu como uma luva na minha adolescência) que me encantei – mas ainda não havia entendido. “The Hardest Part” e o clipe do casal louco dançando enquanto a banda cantava um roquezinho de letra quase suicida e melodia pra bater o pé e conduzir o ouvinte no falsete do refrão – uma das lembranças mais marcantes do passado.
                Aí veio “Fix you” e eu me desconsertei toda.
                Porém, havia algo mais sombrio e agradável do que este álbum tão interessante que eu descobri por causa do clipe do casal louco dançando enquanto a banda patatá-tititi-popopó. Cinco anos antes, “Parachutes” veio ao mundo – e este sim, meu amigo, é pra sofrer em posição fetal. Porque X&Y tem uma coisa a ver com conformismo, e como diria uma tia minha, não devemos nos acostumar a sofrer. “Parachutes” não – este é pra quando você levou o susto e ainda está naquela fase de “cair a ficha”.
                Depois que você faz uma análise de todos os álbuns do Coldplay, você entende que há muita humanidade por trás de uma banda que, de uns tempos pra cá, parece que resolveu se dedicar mais às vendas do que ao experimental – um pensamento patético sugerido por ouvidos preguiçosos. “Viva la vida” é vitorioso, porém um fracasso – quer coisa mais humana que isso? Até o suposto plágio (que agora eu não me lembro se foi confirmado) dá cor a esse tanto de humanidade que eu venho dedilhando dessas linhas – afinal de contas, na tv, na arte e na vida nada se cria, tudo se copia. Aí veio “Mylo Xyloto”, o mais expressivo em termos de cor, o mais pop, o mais estranho, o mais assustador para um bom ouvinte de Coldplay. Como assim para-para-paradise? Antes só tinha yellow, agora tem um arco-íris, um balde de tinta, um muro pichado... epa! Um muro pichado! Frases soltas, perdidas, desejos estranhos, “we’ll run riot/we’ll be glowing in the dark”... Um erro, um acerto, qualquer coisa assim. Apenas a vontade estranha de se expandir, de se reinventar, de colorir um pouco essa jornada tão mórbida que, por mais audiência que dê, cansa, pensa, deprime de verdade.
                Ok. Nem todo mundo gostou de “Mylo Xyloto”.
                Ah sim, as histórias fantasmagóricas... Que muita gente achou que fosse história pra boi dormir. Um visual bem elaborado, umas batidas um pouquiiiiinho sonolentas e um Chris Martin conquistando as menininhas fazendo o mágico naquele clipe que eu não prestei muita atenção porque estava bem envolvida com a música. Ali tinha Coldplay? Tinha. Tinha a essência da banda. A essência que muitos não acharam por trás das cores fortes do disco anterior, mas que também estava lá. A essência da nossa alma, da nossa necessidade de pensar além, de fechar os olhos e viajar na maionese, no ketchup ou onde você quiser. A essência desses caras é o delírio. Seja no uououo, na batida que vem do nada e te faz dar aquele pulinho, na extensão do arranjo, na cor (ou na falta dela), na letra, na melancolia, na superação (forçada), na vontade de viver, de voar, de crescer, de sobreviver. Sobreviver seria um delírio? Sim, por que não?
                Aí veio “A head full of dreams”. A princípio, pensei que fosse um pedido de desculpas pelo disco anterior que, dizem, não foi lá muito bem recebido pela crítica – bobagem. Depois a gente analisa bem e vê que tá longe de ser isso. “A head...” é o que estava escondido em todos os álbuns da banda. A alma deles está tão completa nesse disco que assusta. Parece que eles atingiram o nirvana, cumpriram sua missão, já podem morrer em paz. Isso é estranho. Isso é melancólico. Isso é alegre. Isso é triste. Isso é... tudo. That’s all, folks!
                Invejo a capacidade de ser tão experimental, tão livre, tão despreocupado (aparentemente), tão assertivo. É como se fosse uma brincadeira, sabe? E vai dizer que música não é uma brincadeira? Vai dizer que a vida não é uma brincadeira?
                E tudo não passou de um sonho. Ou vários.
                Ah... parabéns, meninos.  

(Ouça Up&Up, Coldplay) 

(Angelo Volpe)

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