quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Verão o quê?



Já dizia a poesia: “É verão, sei lá”.
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Boca seca. Palpitação. Tremedeira. Dor de cabeça. Teto preto. Tudo rodando. Em que ano estamos? Como é que eu me chamo? Quantos graus tá fazendo? Pra que tantos graus? Por que eu tenho quatro mãos...
Desidratação.
Olha a água mineral, você vai ficar legal. Mas não olhe simplesmente: OLHA OLHA OLHA OLHA OLHA, ou seja, pare tudo que você está fazendo e foque na água, meu amigo, foque na água!
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O axé com certeza é o gênero musical (e textual) mais incompreendido da nossa cultura. Há muito mais do que uma repetição silábica aparente incoerente. Há um quê afrodisíaco, revigorante, quase transcendental. Eu diria que é possível atingir o nirvana ouvindo o marido da Cinderela Baiana – ora, Xandy vem a ser um príncipe, que bonito isso. O axé,  meu caro, faz você esquecer que há um sol infernal debaixo da sua cabeça, tão infernal quanto o cheio da axila (e da urina) alheia, quanto o fato de você estar numa cidade praiana lotada com areias e sacos de gelo disputados de tal forma que nos faz questionar o quão primitivo é o instinto humano.
O axé, meu bem, é um entorpecente. É o tal do “chêro”. É o que te mantém de pé.
Axé.
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Tudo começou há um tempo atrás na ilha do Sol.
Mas verão que era tudo mentira. Não era amor, era o calor – cilada é só em fevereiro, ainda estamos enfrentando o final de dezembro, calminha aí. Verão que aqueles beijos empapuçados de amor (calma, Rita, já mandei ter calma!) não passavam de fogo, de um fogo que consome as áreas mais sensíveis do corpo e da alma, um fogo de altas proporções, porém passageiro. Verão que o tempo cura tudo – até mesmo a ressaca, o excesso de comida pós festas de fim de ano, a culpa pelas promessas não cumpridas, os afogamentos causados pelas falhas tentativas de pular sete ondas – talvez você tenha se perdido na conta, amigo. Verão que você apostou nas cores erradas, porque por mais que você precise de amor e dinheiro ao mesmo tempo, talvez não seja legal colocar uma blusa dourada e short de couro vermelho – é verão, sei lá. Verão que esse teu desespero te acompanha há não sei quantos dezembros, mas que você, guerreiro que é, ainda tem esperanças no futuro.
Aliás, como será o amanhã? Responda quem puder.
Responde qualquer coisa. Só pra Simone calar a boca.
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Não se deixe abalar pelas ondas do mar (e da galera do avião), pelo teor etílico acima da média, pelo beijo não dado (ou por aquele molhado – pra não dizer “babado”), pelo tempo desperdiçado em lojas e engarrafamentos, pelas falsidades de fim de ano, pelas confraternizações que te esvaziam a carteira, pelos amigos secretos que te dão facas enquanto você leva facadas do seu cartão de crédito para comprar seu presente, pelos especiais de fim de ano na tevê, pela ausência de um mozaum pra beijar durante a queima de fogos, pelas farturas desnecessárias em pleno 24/25 que na verdade só quer paz e amor, ah, não se deixe abalar pelo verão, meu caro.
Sê forte.
Sê guerreiro.
Cerve... Não, apenas pare.
(e pegue no compasso).

(ouça a discografia do grande rei da música popular brasileira: Netinho de Milla)
 (Mark Hobley)

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