Hoje
eu não quero ver a novela. Desliguei a TV, coloquei aquela música que eu não
ouço quase nunca, me deixei levar por uma letra que não conheço, mas que,
estranhamente, meus lábios acompanham perfeitamente. Hoje não quero enxergar
esses rostos, esses sorrisos, essa gente torpe, mediana, esses que eu julgo por
estimação – quando não há mais nada em mim para eu condenar. Hoje eu cansei de
contar hipocrisias; uns litros a mais ou a menos de lágrimas correndo pelo meu
rosto não querem dizer nada, significam apenas uma faxina íntima... Meu Deus, a
quem eu devo satisfações além de mim mesmo? Quantas provas eu devo dar, quantas
justificativas, quantos padrões eu ainda devo seguir só para me frustrar ainda
mais?
Já
me perdi nesse mundo faz tempo. Mas hoje eu assumo que quero me perder. Aliás,
que se dane o que eu quero. Chega desse ódio, dessa mágoa, dessa coisa que
invade as telas, os livros, a rotina, os meus pensamentos mais distraídos... Chega
dessas regras, por favor. Eu não quero regras para sentir. Não quero nada que
me barre como um segurança mal encarado ou uma senhora travestida de Moral
featuring Bons Costumes. Dispenso bandeiras e suas cores monótonas; arco-íris,
bom, que seja aquele que traça o céu depois da chuva. Não quero gritos,
manifestos, socos e pontapés. Não quero nada além de um silêncio abençoado pela
minha própria música, feita puramente de contradição. Porque é assim que eu me
sinto nesse exato momento: preso a essa liberdade louca e sombria que surgiu de
um lugar que eu não conheço, mas é lá que me escondo nesse momento. Eu me
escondo de mim porque cansei de mim.
Nem
me ouça. Finja que não falo, que não sinto, que não estou aqui. Porque a
verdade é que não estou. Ah, e nem me pergunte onde quero estar... Porque tanto
faz. Tanto faz o caminho que devo seguir. Tanto faz o caminho que, ao contrário
do que dizem, eu sigo. Tanto faz o que me faz ser tanto. A vida me é pura e
simplesmente uma canção que só eu conheço, tão deliciosa e mágica que move meu
corpo do primeiro ao último músculo, fazendo cada parte de mim se unir para que
eu seja inteiro.
Dane-se
o mundo. Por incrível que pareça, hoje me sinto só mais um Raimundo.
(Ouça Hold me down, Mansionair)
(London)
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