Quem
diria: há magia nas primeiridões.
O
primeiro sorvete. Esse é um momento único, porém esquecível. Mas é graças ao
primeiro que surgem as casquinhas, os sundaes, os milk shakes, os potes de dois
litros em plena madrugada. A primeira nota vermelha, o primeiro castigo, a
primeira pirraça. A primeira taça de vinho, bom, há quem diga ser inesquecível –
pelo visto esse sujeito já passou pelo primeiro porre há tempos. O primeiro
amor é coisa pra levar pra vida inteira – sim, todo amor a gente leva pra vida
inteira, mas o primeiro, meu caro, é diferente, tem um frescor de quem não se
arrepende dos erros que comete, das loucuras, das paranoias, enfim, do primeiro
contato com o sentimento mais tosco e ao mesmo tempo mais irresistível do universo.
A primeira dor de amor também, ah, essa a gente não esquece nem por um decreto.
Dói mais que o primeiro porre, que a primeira ressaca, que a primeira
chinelada. Dói mais do que todas as ressacas e chineladas juntas. Vai entender.
A
primeira ida à praia – às vezes, quando somos bebês; às vezes, depois de já
termos feito bebês. Pisar na areia, ser levemente agredido pelas ondas, se
deixar levar pela brisa, se enterrar, se queimar com águas-vivas, caçar tatuí
na beirinha do mar, contar barquinhos, tentar enxergar além da linha azul que
define o horizonte, se melar com picolé e com protetor solar, perder os olhos
na claridade do sol e no céu de guarda-sóis, aprender a viver cada verão como
se fosse o último. A primeira canção que ouvimos. As primeiras batidas, os
primeiros passos descompromissados na pista, os primeiros acordes, os infinitos
minutos de vibrações intensas e alucinantes. O primeiro beijo, ai que bom que
isso é, meu Deus, o primeiro arrepio que nos dá. A língua que brinca na boca;
primeiro é estranho, mas depois é tão gostoso que dá vontade de ficar ali pra
sempre, pra todo o sempre, até não haver mais uma gota de saliva dentro da
boca, até os lábios se enroscarem de um jeito que não dá pra desenroscar. A
primeira noite em que não se dorme, porque outras coisas são descobertas; o
corpo, a alma, a estranha sensação de ser do outro e de si mesmo ao mesmo
tempo, ô loucura boa. A primeira perda, o primeiro ganho, o primeiro tombo
(andando de bicicleta, pra especificar bem), o primeiro passo, a primeira hora,
a primeira lágrima sem ser de manha, a primeira gargalhada, o primeiro copo d’água,
a primeira gota, a primeira vez.
Engraçado
essa coisa de poder recomeçar todo dia, toda hora, quando a gente bem quiser,
bem entender. Todo dia é o primeiro dia, e todo tempo é tempo de viver e
reviver as nossas primeiras vezes. Andar pelos mesmos lugares, com os mesmos passos
tortos, matando alguns leões, algumas dúvidas, alguns mosquitos... Mas nunca se
esquecer de que a vida é feita de começos.
Quem
diria: sempre haverá magia nas primeiridões.
(Ouça When the sun comes down, Incognito)
(Tumblr)
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