Ah, eu já me cansei de falar sobre
isso. Essa coisa de liberdade de expressão, cada um faz o que quer, livre
arbítrio, tudo vale a pena se a alma não é pequena... Ok, essa última frase foi
só para não confundirmos todo esse lindo conjunto de ideias de liberdade com
libertinagem, e assim não acabar transformando esse texto num enorme bacanal.
Quer saber de uma coisa? Acho que esse primeiro parágrafo não ficou dos
melhores. Ah, ouçam “Express Yourself” para me perdoarem.
Semana
passada, eu me choquei só um pouquinho, como uma galinha se chocando junto com
o ovo – pode ser uma comparação meio bizarra, mas é basicamente isso. Ligada no
Globo News, aquele canal cansativo que só, com repórteres mais ansiosos que eu
quando acontece alguma coisa que merece uma cobertura de respeito (ou seja,
quando dá alguma merda), eu só conseguia pensar na França aterrorizada por uns
irmãos que, em pouquíssimas horas, já estavam mortos – ou até menos, creio. O caso
encerrou, a França voltou a ser o cenário de um dos meus filmes favoritos (viva
Woody Allen), voltou o profiteróles, o merci bocu, a torre Eiffel, a ponte dos
cadeados e seus amantes desocupados, a Carla Bruni (eu gosto dela, me julguem),
enfim, tudo voltou a ser como era antes. Bom, mais ou menos. A rotina voltou,
mas ganhou um “je suis Charles” nos adesivos nos carros, nas faixas, nas redes
sociais, principalmente.
Liberdade
de expressão, limites do humor, violência. Linha tênue e irritante, cá entre
nós. Cada um diz o que quer com o respeito que lhe cabe, pronto. Quem ouve,
responde porque não é nenhum peso de papel, mas mantém a cabeça e as convicções
no lugar com o respeito que lhe foi designado – mesmo que o outro dispense esse
tal respeito. Nunca vi limite pra humor, até porque se tem coisa mais intelectual
no mundo é uma gargalhada. Até quando rimos de uma sessão de cócegas rimos
irritados, cacete, vai incomodar outro, e então ficamos nervosos – me traz uma
pessoa que goste de ser perturbado com cosquinhas aqui que eu mudo de ideia
agora. Nem criança gosta. Ah, vão procurar coisa melhor pra fazer rir.
Contar
piadas é um dom que eu admiro mais do que saber escrever um romance épico, um
best seller, uma peça onde até a coxia ganhe os melhores prêmios oferecidos.
Quando a gente ri, a gente manifesta admiração, revolta, identificação,
reflexão entre tantos outros sentimentos que a madrugada não me permite lembrar.
Rimos de nós mesmos. Rimos do que é nosso. Religião, por exemplo: quem inventou
isso foi a gente. Quem inventou a bíblia foi a gente – ou vocês acham que Deus,
cheio de coisas pra fazer, ia parar pra escrever a bíblia num caderno com capa
de couro e jogar, ao relento, pra galera ler e fazer o que bem entender? Quem
inventou o sexo fomos nós, assim como o preconceito, a ignorância, a estupidez,
aqueles complexos chatinhos de superioridade ou inferioridade, enfim, nós somos
o motivo da gargalhada. Nós gargalhamos porque pensamos, e refletimos, e temos câimbras
faciais, e temos enxaquecas porque nossos miolos dão um nó. Essa liberdade que
temos de rirmos do que quisermos é mais gratificante do que selecionar o que
pode ou não ser dito. Não, tudo deve ser dito, até a última letra. Tudo deve
ser dito, ouvido, gargalhado, pensado, refletido e, se necessário, modificado.
Liberdade de expressão todo mundo tem. Eu choro, eu rio, eu amo, eu odeio, eu
sinto e me expresso como bem entender. E se ofendo, peço desculpas, gargalho,
reflito, me mostro, vejo o outro lado, meu Deus, não somos primatas.
Justificativa
para a violência não há. Nem ofensa, nem dor de corno, nem mentira, nem
trapaça, nem apunhalada metafórica pelas costas. Se não der pra perdoar, tá
bom, odeia. Mas matar, meu irmão, dá cadeia. Nossa, parece que esse povo
esqueceu o be-a-bá.
Sabe
de uma coisa? A vida é curta demais pra dar explicações. Daqui a pouco amanhece
e eu estou aqui, com sono, problemas e tantas coisas mais. E sabe o que eu
tenho que fazer antes de dormir? Sorrir. Pelo que passou e pelo que vai vir.
Sorrir não, escancarar uma risada estridente e assustadora. Chorar um
pouquinho, se precisar. Não tem problema. A vida é curta, mas é mais simples do
que a gente pensa. Não é um teorema de Pitágoras.
Se
bem que o teorema de Pitágoras é fácil.
(Ouça Express yourself, Madonna)
(Clarissa Gonzalez)
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