O
nosso corpo virou arma. Homem-bomba explode metrópole e mata dez, mata cem,
mata mil. Mulher para o trânsito e alucina motorista, dispara bafômetros
entorpecidos de tédio e vontade de se perderem por aí, mas um perdido mais
metafórico, menos mal. Capas de revista. A novela das onze – bom, se duvidar
até no programa matutino de receitas aparece um lombo, um peito, um peru – não
tem pudores. Sexo virou moda. Não, é algo além do sexo: está mais para o poder
de ser, de ter, de mostrar. O que acontece depois... Bom, o amanhã a Deus
pertence. Irônico isso, não?
Engraçado
como ainda tem gente que gagueja quando fala disso. Pais, mães, avós, ou até
mesmo uns jovenzinhos com vergonha de se abrirem dentro de casa – o duplo ou
triplo sentido dessa frase não foi intencional. Aliás, que fique claro: nada
que sair desta conversa possui duplo sentido. Tudo aqui tem um sentido só:
aquele que o ouvinte quiser. O resto é resto, que se dane, falso moralismo,
depravação, chame como quiser. Quem aí tem coragem de dizer do que gosta, o que
quer fazer? Quem aí sabe do que gosta? Quem aí se atreve a gostar?
Não
há nada de desnecessário ou dispensável quando se fala de sexo – e sobre quando
se faz, bom, mais uma vez é com o freguês. Faz parte da vida. Aliás, em algumas
situações é a primeira parte da vida. Tabu é coisa de hoje que existe desde
ontem, é estranho mesmo, mais estranho que a própria definição. Mas sexo não é
tabu. Pode ser doença sim, ora, assim como comida, trabalho, saúde ou qualquer
outro assunto que sair na roleta. Um beijo para as freiras e os padres que
vivem sem – ok, nem todos, mas tudo bem. Um parabéns bem grande pros que
escolheram esperar. A escolha é de vocês. O corpo é de vocês. O julgamento
também. E o tapa na cara em forma de textão em rede social... Já está na hora
de mudarmos esse tapa na cara metafórico, vocês não acham?
A
tal apelação que salientam por aí é proporcional aos gritos de blasfêmia. O
corpo é nosso. O controle remoto também. O livro, o rádio, a tevê. A gente faz
tudo isso. A gente faz a gente. E se envergonhar pra que? Certa vez ouvi por aí
que a maior vergonha que temos que ter é de andarmos vestidos. Será que foi
Nelson Rodrigues? Não sei, confundo autores, pensamentos e devaneios como quem
confunde bundas e seios. Mas sabe de uma coisa? Eu bem que concordo com isso.
Nascemos livres, meu bem. Sem roupas, cabelos, maquiagem, joias, o que for. Nos
mascaramos com a idade, e ao mesmo tempo em que ainda dizemos que somos livres,
censuramos a vida com todas as nossas forças. Portanto, seja lá quem for que
tenha dito essa frase, concordo plenamente. Mas ainda não conseguiria viver num
mundo representado por uma praia de nudismo. Nada contra, só tenho que terminar
meu projeto verão, sabe como é.
“Mas
e as nossas crianças! E as músicas que elas ouvem! E as coisas que elas veem
por aí!”. Ora, se as crianças têm acesso a tudo, ok, realmente não dá pra
restringir. Mas se não tiver o mínimo de orientação – e o que eu chamo de
orientação é conversa, acordo, explicação, mesmo que seja difícil, ah, meu filho,
na hora de fazer não foi difícil, fala pra mim –realmente é de ter pena.
E
sabe de uma coisa? Há várias outras opções entre o canal religioso e o Sexy
Hot. Vai na fé. Veja o que quiser. Ouça o que quiser. Mas não me obrigue a ver
e ouvir o mesmo. Se eu quiser, eu ouço, eu vejo.
Se
eu quiser.
(Ouça Protection, EBTG)