Passei um bom tempo pensando que “Blue
Jasmine” se tratava de uma comédia – mais uma do mestre Woody Allen, aquele que
com certeza deve ter feito algum cursinho de guia turístico no passado, porque
o cara adora colocar um lugar charmoso e paradisíaco na situação. Ainda não
tinha visto o filme, mas eis que, numa bela noite sozinha e sem nenhum braço
másculo pra agarrar durante uma sessão de filme de terror, resolvi assistir.
Ah,
e só pra constar: não entendo nada de cinema. Já assisti uma palestra de crítica
cinematográfica, mas essa coisa de prestar atenção na câmera ou nos detalhes me dá
muito trabalho. Eu vejo filmes pra me divertir, e o ato de pensar na história é
involuntário, eu juro. Meu lance é literatura, pura literatura... E foi isso
que fez com que eu me apaixonasse pelo Woody, ao ver “Meia-noite em Paris”, um
dos filmes mais lindos que já vi em toda a vida.
Ah,
sim, “Blue Jasmine”.
Em
primeiro lugar, Deus, o que é Cate Blanchett? Nunca senti tanta veracidade em
alguém como nela. Nunca um Oscar foi tão merecido. Em segundo, como já disse,
acreditava que esse filme fosse apenas um bom momento para dar umas risadas; no
máximo uma crítica ao que chamamos de high society. Terminei a história
invadida pela tragédia: a tragédia da vida que não para, não volta, não quebra
galhos. Jasmine é uma trágica personagem da vida real (se é que isso é
possível) que nos ensina uma tremenda lição: podemos mudar de nome, de rosto,
de jeito, de ares, de casa, de classe, podemos nos modificar por inteiro. Mas
não vamos conseguir ser outra pessoa: no máximo, vamos nos perder de nós
mesmos... Para nunca mais nos encontrarmos. E quando a lei do retorno bater, a
dor vai ser tão grande que vamos enlouquecer a ponto de viciar em ansiolíticos,
de falar sozinha no meio da rua e assustar curiosos, a ponto de confundir o
presente e o passado por puro medo da realidade. Jasmine é tão literária, tão shakespeariana... De que livro ela saiu, minha gente?
Pela
primeira vez, não vejo o cenário ganhar destaque – apesar da fotografia do
filme ser bem satisfatória. Não há espaço ou tempo definido. O que há são
personagens ricos e tão absurdamente complexos que só mesmo a visão irônica e
às vezes até mesmo carinhosa de Allen para conduzi-los.
No
mais, assista e se perca nas loucuras de Jannete, ou melhor, de Jasmine. Mas
não se perca de si mesmo. Nunca.
(Ouça Blue Moon, Sinatra)

Amore,
ResponderExcluirTexto ótimo como sempre.
Só uma informação: Blue Jasmine tem uma forte influência da peça Um bonde chamado Desejo, do Tennessee Williams.
Se der, veja o filme com Marlon Brando - que tira a camisa em uma das cenas mais sexies do cinema.
Ah, veja também Tudo pode dar certo - tradução infeliz para Whatever Works - também do Allen, veja se Boris não se parece comigo. Aliás, assista tooooooooda a filmografia de Allen,esse homem é de outro planeta (tentativa infeliz de trocadilho de Allen com Alien, mas ok).
Adorei as dicas, Carol! Muito obrigada, e pode deixar que eu vou assistir.
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