Abrir a boca é mais indecente do
que tirar a roupa. Portanto, tome cuidado.
Antes da boca, os ouvidos. O dom
da audição. Ouvir o que se diz e o que se pensa, sempre procurando o que se
pensa naquilo que se diz, e sempre desprezando o que diz naquilo que se pensa.
Olhar bem nos olhos e enxergar a aura, a sensatez, a verdade ou a falta dela.
Buscar no mar de nervos e remelas uma ponta de segurança, de conforto, de aconchego.
Não ter medo. Só há ação com boa observação.
Ao abrir a boca, verifique seu
hálito, seus hábitos, seus desejos. Não se abre a boca para qualquer pessoa. Em
boca fechada não entra mosca; mas também não entra nem sai nada. Ditado mais
ignorante.
Respire fundo. A mensagem é o
período, e o período é composto por frases, e as frases são compostas por
sintagmas, e os sintagmas são feitos de vocábulos, e o que seria dos vocábulos
sem os morfemas? Nada. Quem diria: será possível encontrar um pouco de
filosofia dentro da gramática? As palavras devem ser pensadas, repensadas, mas
nunca requentadas. Deve haver sentido, significado, importância, compreensão.
Não precisa ter ouvido. Às vezes, nem precisa ter razão. Tem momentos em que a
gente fala só pra sentir a saliva circulando. Mas só em alguns momentos.
Masque um chiclete. Por mais que
os médicos repudiem essa atitude, quando houver algo dentro de você a ponto de
explodir mas, por alguma razão, você não deve deixar explodir, não pense duas
vezes: ponha alguma coisa na boca. Isso fica a critério do freguês.
Cante. Mesmo que a sua voz seja
horrível, a pior do mundo, o som mais medonho que há. Canta forte, canta alto.
Canta sem medo da canção, seja ela qual for. Canta por cantar, para ter o que
falar, para não ter. Para espantar os males, se afundar em novos mares, botar as
cordas vocais pra vibrarem. E se não quiser
cantar, conta uma piada. Pode ser limpa, pode ser suja, pode ser cheirosinha,
fedorenta. Conta uma história. Quem conta um conto, ganha um ponto. Qualquer
papo. Qualquer coisa.
Mas não faça silêncio... Em
hipótese alguma.
(Ouça Barato Total, Gal Costa)
Nenhum comentário:
Postar um comentário