Faz tempo que eu joguei minha vida nas mãos de Deus e dos planetas. É um ritual estranho, desesperado, ridículo. Você se entrega ao que te “define” por achar que a sua data de nascimento é responsável pela forma como você encara a vida – e também pela forma como a vida encara você. Então vale tudo: entre se afogar num poço de lágrimas marcado pela maldição do inferno astral pouco antes do aniversário a culpar o signo pelo seu dedo podre (ou por ser o alvo de muitos dedos podres por aí).
Você pode até me julgar. Mas antes, me responde uma coisinha: você nunca parou pra pensar na precisão das palavras que descrevem o seu signo? Nunca teve aquela curiosidade que te moveu a buscar o signo do/da amiguinha pra saber se é compatível com o seu?
Você nunca se sentiu entediado ao ver que a sua vida não segue um roteiro cinematográfico movido por um “de repente”?
Você nunca esperou por uma mudança brusca, mesmo sabendo que depois iria dizer “eu era feliz e não sabia”?
Você nunca tentou ficar sem pensar em como seria a sua vida se acontecesse aquilo que você quer, mas acabou pensando sem querer e, por isso, acredita que afastou a possibilidade dos seus planos se realizarem? Nunca teve um princípio de ataque de ansiedade? Ânsia de vômito? Medo? Enjoo? Vontade de chorar? Grito preso na garganta? Dor de cabeça? Cansaço emocional?
E depois de tanto pensar e tentar não pensar, você nunca se sentiu exausto? Sem forças? Com vontade de olhar pro teto e não fazer absolutamente nada além de não existir só por alguns minutinhos?
Acho que estamos mal acostumados. Sei lá, essa velocidade do tempo, essa necessidade de estar em todos os lugares e de fazer tudo que todo mundo faz, esse pulmão cheio, esse fígado jovem e sobrecarregado, essa cabeça a ponto de explodir... Envelhecemos rápido demais. E talvez a questão nem seja o envelhecer, mas sim o fato de que o não conseguimos aceitar a nossa total falta de controle sobre o tempo. Por isso, é mais prático traçar mapas invisíveis a olho nu, explorar astrólogos e se perder entre metáforas e certezas irrefutáveis sobre nós mesmos.
Sim, acredito na astrologia. Meu signo diz muito sobre mim. Talvez tudo o que eu deva saber, mas que eu saberia sem ter que ler nadica de nada. Tá dentro da gente, o resto é orientação. E por mais que a gente conviva com o futuro em pleno presente, nunca sabemos como as coisas vão se desenrolar. Tá aí a surpresa; é tão perfeito que chega a ser irritante. Chega a torturar.
No fim das contas, só precisamos de silêncio e um punhado de fé no que quer que seja. No que queremos, no que precisamos, no que foi, no que é, no que virá.
Também vale ter um pouco de fé que a lua dessa vez vai ser boazinha quando entrar em câncer.
(Um salve para os meus amigos metidos a astrólogos que enchem meu Twitter de certezas místicas e maravilhosas ❤️)
(Ouça Today, Zero 7)
Nenhum comentário:
Postar um comentário