Me disseram uma vez que essa coisa
de se jogar é doença, sinal de total desajuste. Me disseram também que começar oração
com pronome oblíquo é erro inaceitável, um crime contra a gramática. Será que
posso alegar motivo de doença quando me condenarem? Tomara. Pela minha
liberdade, eu faço de um tudo... Até me prender eu me prendo.
Tem
coisas que eu não sou capaz de entender. Introduções, por exemplo. Começos são
tão difíceis! É quase impossível não empacar no primeiro parágrafo, na primeira
etapa, na primeira tentativa. Ou você supera ou você desiste. Confesso que de
muitos eu desisti, e apesar da decepção, fiquei aliviada; afinal de contas, um
desenvolvimento complicado a menos. Mas e os que eu superei? Foram poucos, seguidos
por péssimos pontos finais-continuativos. Mas é aquilo: se queremos viver, é
necessário simplesmente sobreviver de vez em quando.
Desenvolvimentos?
Meu Deus, morro de medo. Arranco meus cabelos só de pensar. Não há como não se
envolver com eles, mas se envolver a ponto de enlouquecer. Ninguém quer encher linguiça,
ninguém quer cometer erros... Mas olha, não tem como. Não existem histórias
perfeitas. Ou você se contém e faz uma porcaria ou você se joga e faz uma bela
porcaria – pelo menos você ganha um adjetivo... E um belo galo na cabeça.
Meus
desenvolvimentos sempre me exigem coisas que eu acho que não sou capaz de dar.
Palavras estranhas, frases complicadas, figuras de linguagem que mais parecem códigos
indecifráveis. Respeite minha coleção de traumatismos cranianos.
Meu
problema são as conclusões.
É
quando eu sinto meu corpo caindo, meus ossos chacoalhando, e tudo que eu sou é
um presunto no chão. Finais, despedidas, game over, “pudemos concluir”... Eu
não posso concluir nada. Não quero concluir nada. Conclusões são mortais. Deixa
eu continuar arrancando os cabelos, deixa eu morrer tentando fazer a história
engrenar! Mas não me peça para dar o fatídico ponto final.
Pelo
bem da minha história, dispenso até mesmo as referências bibliográficas. E os
colchões amortecedores de queda.
Por
isso, não quero pontos finais nessa conversa. Fico com a vírgula, ou melhor,
com as incríveis, cafonas e eternas reticências...
(Ouça Virgem, Marina Lima)
(Budi Satria Kwan)
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