Dia
desses, falávamos sobre casamento. Não sei como entramos no assunto, mas sei
que eu saí cheia de ideias pipocando aqui dentro. Falávamos sobre essas festas
enormes, sobre essa indústria do relacionamento, ah, sobre todas essas coisas
que dizemos nos incomodar até um par de véu e grinalda aparecem na nossa
frente e um litro de lágrimas rolar. “Me irrita essa gente que gasta uma fortuna na festa e pede até
tapete na lista de presentes”, disse uma amiga, claro, em tom de revolta. Rimos,
afinal de contas isso não faz nenhum sentido... Opa. O casamento não faz
sentido. Sim, estou falando do conjunto da obra. Do véu, da grinalda, do noivo,
da noiva, da festa, da lista de presentes. É muito mais do que uma instituição
falida: é uma farsa.
O
que vejo por aí são casais estranhos, quase desconhecidos, unidos por um
sentimento prematuro que promete grandes voos, mas que, quando violado pela
precipitação e pela necessidade de mostrar à sociedade que os cidadãos
envolvidos são de bem e querem constituir uma família (?), acaba se tornando
inferior à poeira que reveste os álbuns de fotos. Casais que acreditam em
pedaços de papel, em tradições toscas, quase risíveis. Casar-se de branco. Não
deixar o noivo ver a noiva antes do “sim”. Marcha nupcial. Homem e mulher. Vestidos tão justos
que é preciso um balão de oxigênio ao lado da noiva. Daminha, pajem, lua de mel, bem casado, olho de sogra, sogros, pais, parentes, aquela
vizinha invejosa que deseja que seu casamento não dure nem três meses, a
obrigação de procriar. A terapia de casal. O contrato pré-nupcial. Meu Deus, um
contrato. Advogados. Como é que vocês não enlouquecem com isso?
Mais
do que ser contra relações burocráticas, sou contra tudo que pressiona, tudo
que cobra, que obriga. Amor não é isso. Não é gastar rios de dinheiro numa
festa que nada mais é do que um presente à sociedade “moderna” e “digna”.
Não é se jogar num bando de tradições. Não é assinar papéis, fazer contratos,
listar as etapas a serem cumpridas como se a vida fosse um grande e cansativo video
game. Amor não é casamento – ou pelos menos não é esse casamento que
conhecemos.
Escolher
passar a vida inteira ao lado de alguém é a loucura mais linda que eu já vi.
Dedicar-se, admirar cada sorriso, enfrentar cada perrengue, se entregar, brigar
de vez em quando, deixar o orgulho dar seu chilique mas depois ceder, fazer as
pazes, viajar, viver a rotina, tentar quebrar a rotina e acabar fazendo disso
rotina, aceitar que o dia a dia pode ser incrível e que você não mudaria nada,
nadinha, nem uma gota... Depois de um tempo, festejar o que já foi vivido com
um churrasco, uma festa de gala, uma viagem, uma noite num hotel bacana, sabe, só
pra tomar um fôlego mesmo... Trocar alianças, sejam elas anéis, brincos,
cordões, mãos dadas, fotografias, sorrisos. Vestir-se de branco... e de azul,
amarelo, verde, roxo, vermelho, todas as cores, sempre com o intuito de se
agradar e de agradar quem se ama, autoestima, bem estar, coisa de gente doida.
Só os doidos são felizes porque eles se entregam, se permitem, escolhem serem
escolhidos e são escolhidos por suas escolhas, quanta piração! Há mais
mistérios e coisas incríveis entre dois seres do que sonha a vã burocracia.
Coisas que desvendamos aos poucos, sem precipitações, dívidas, clichês,
hipocrisias. E sobre o fato de construir uma família: olha, já ficou mais do
que provado que casamentos não são responsáveis por isso. Famílias são
construídas e moldadas pelas circunstâncias da vida, e principalmente pelo
amor.
Por
isso, não quero me casar. Pode chamar de doideira, filosofia de vida, meta, ah,
eu perdi o dicionário, faz favor. Eu quero viver todos os sentimentos que me
forem oferecidos, cada partícula, cada centésimo, grão por grão. A pessoa certa
não existe, o que existe é o sentimento certo. Quero vive-lo, quero dar todos
os passos que meus pés cegos quiserem dar, enfrentando situações, me deixando
levar, rolar, eu quero é crescer. E aí, quando estivermos sem fôlego, cansados,
exaustos, no problem: vamos fazer um churrasco para comemorar tamanho cansaço,
seja qual for sua razão de ser.
“Poxa,
mas quem casa quer casa”. Eu não quero casar, e a minha casa é o mundo que eu
descubro a cada dia - ok, sem hipocrisia, a parte da casa eu quero de qualquer forma. Admiro quem vive relações duradouras, eternas, quase
sobrenaturais de tão fortes. E pra isso, não é necessário se deixar “molhar”
por uma chuva de arroz. Basta amar. Basta querer. E como eu já disse alguma
vez, o resto é resto.
No
mais, de onde foi que tiraram o nome “lua de mel”? Me parece doce demais, mas
tudo bem, eu respeito, até admiro.
Sério.
(Não sei se já indiquei essa música, mas só penso nela: I got you, Jack Johnson)
(Christian Dior)
(Se um dia eu ganhar o Nobel de literatura ou o prêmio Jabuti, é esse vestido aí que eu vou usar ;) )
(Se um dia eu ganhar o Nobel de literatura ou o prêmio Jabuti, é esse vestido aí que eu vou usar ;) )
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