Dia desses, tirei
meu cordão favorito pra colocar um colar e sair à noite – só pra combinar com a
roupa e agradar o espelho. Passei maquiagem, me emperequetei. Lá fui eu sem meu
cordão da sorte. Às vezes, eu passava a mão no pescoço e só encontrava um fio
diferente, que não me pertencia. O espelho se agradou, mas sei lá, não tive a
melhor das sensações. Cheguei em casa e jurei pra mim mesma que era tolice, ia
passar. Resolvi ficar sem cordão, sem colar, sem nada – só o pescoço e acabou.
Mas é que o vazio foi ficando grande, grande, grande... E lá fui eu atrás do
meu velho cordão de guerra.
Hoje minha pulseira arrebentou. Caramba, como eu gostava
dela. Era colorida, toda colorida, e ao mesmo tempo discreta. Eu gostava de
brincar com sua firmeza no meu pulso, com suas cores, suas pedrinhas
minúsculas. Acho que não tem conserto: perdi um amuleto.
Amuleto? Que amuleto?
Desde criança, eu vejo nos filmes que todo mundo tem um
amuleto. O Indiana Jones tinha aquele bendito chicote; rapaz assanhado, hein.
As princesas davam escapulários aos seus amados, que a davam flores, alianças,
pedras, fotos, whatever. Enchiam suas mulheres de tralhas. Enchiam-nas de
ilusão. Homens.
Acho
que também acredito nisso. Eu uso um anel amassado, mas eu tenho tanto carinho por
ele que, sei lá, é meu amuleto. Me dá sorte... Sorte? Eu não sei se é bem isso
que quero quando guardo algo especial. Sorte eu tive quando vivi o momento.
Sorte eu tenho de me lembrar dele até hoje. Me deixou uma marca, uma joia, uma
pétala seca que eu guardo nu fundo da gaveta pra sei lá, ficar lá pro resto da
vida. Mas e os momentos que deixam memórias físicas, porém não são
necessariamente especiais?
É
por isso que me desfiz dessa ideia de amuleto – bom, pelo menos essa coisa de
me ligar ao material eu tô tentando deixar pra trás. Minha vó sempre diz: do
que adianta ter tanta coisa se nada disso vai com você pro caixão? E é mesmo. E
eu nem sei se eu vou pro caixão, vó. Não quero te assustar, mas eu sou imortal.
Segredinho, hein.
Sabe
o que me dá sorte? Gente. Vida. Seres animados. Que me entendem, me acompanham,
me respeitam, me inspiram. Mais do que o anel, o cordão, a pulseira, a pétala
velha no fundo da gaveta, a foto amarelada, o ingresso do cinema, a carta...
Mais do que qualquer lembrança física, a recordação daquele momento que já
virou eterno muito antes de acontecer. Essa coisa de sorte é pra quem joga no
bicho ou grita “bingo” todo domingo. O importante, meu bem, é ter alguém pra
chamar de meu bem. Amigos, família, parceiros, cúmplices, companheiros,
amantes. Mais importante que ter sorte é ter amor, é ter base, é ter sustento
emocional, humano. É ser humano e ter força pra jogar os dados. As pulseiras
que se arrebentem, os cordões que se percam, as pétalas que se desmanchem. Tem
vezes que o abstrato é muito mais forte do que o concreto.
De
qualquer forma, tô com meu cordão no pescoço. Não é talismã; é mania mesmo.
(Ouça Sorte, Caetano Veloso)
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