Enquanto
esperava as últimas gotas saírem, pensei numa coisa engraçada. Isso faz sentido
– uma vez, conversando com um amigo, concluímos que é justamente quando estamos
no banheiro que as melhores ideias surgem (acho que ele concluiu primeiro; sabe
como é, eu tinha que equilibrar a conversa fazendo a nojenta da situação). E
foi bem assim mesmo: eu lá, num momento natural e cheio de bactérias, tive um
insight que, se for bem trabalhado, pode dispensar uns bons anos de terapia.
Cazuza
cantou uma frase que sempre me fez pensar bem sobre o que significa esse tal
amor que alguns dizem que existem em São Paulo, em Nova York, na China, na casa
do cacete: “que prazer mais egoísta o de cuidar de um outro ser/mesmo se dando
mais do que se tem pra receber”. Ok, talvez seja apenas um eufemismo para
aquela famosa arte de ser trouxa... Se for, bom, pelo menos ele escolheu o
momento certo para suavizar algo tão indelicado e desastroso que faz parte das
nossas vidas.
Sempre
amei essa música, mas quando chegava nessa parte, batia a onda do conflito.
Porque é isso mesmo: o amor é egoísta. Talvez o único ato de egoísmo perdoável
nos anais dos atos da classe. Será? Será que todo amor tem que ser assim,
compulsivo, estranho, louco, causador de suadouros e responsável por gastos
imensuráveis com tubos de desodorante e caixas de tarja preta? E por que apenas
o garoto rico que queria uma ideologia pra viver soube realmente definir essa
porcaria de sentimentos quando temos uma MPB inteira, meu deus?
A
gente não escolhe amar, é verdade. Mas, na nossa mente fértil (e um pouquinho
correta), quando amamos provamos para nós mesmos que não somos psicopatas. E
também não escolhemos quem amar; apenas amamos. É o alívio e a tensão no mesmo
copo. Dose fatal pior que muita cervejinha metida a besta que derruba você,
caro leitor fracote.
No
meu insight conta-gotas, pensei: eu não quero esse amor baseado numa crítica
travestida de eufemismo. Não que eu esteja dispensando a loucura – existem
momentos em que ela é mais do que necessária, se é que você me entende. Mas é
aquilo: que amor é esse que te desgasta, te coloca pra baixo, derruba sua
autoestima e te faz desperdiçar sua criatividade literária com cartinhas toscas
para alguém que nem se importa com o que você faz da vida? Saindo de um poeta e
indo para o outro, anote aí: não era amor, era cilada.
Decidi
me preocupar menos. Sofrer menos. Parar de correr atrás; minhas pernas têm
andado bem doloridas ultimamente. Que se dane esse amor cheio de correntes,
padrões, manuais e sofrências no meio da noite com uma taça de vinho, um
cigarro pela metade e uma Marina Depressiva Lima invadindo a casa com sua voz
rouca e suas palavras meio esquisitas de se entender (Marina, te amo, tá?). Que
se dane tudo isso. Eu quero mudar todas as músicas. Quero me defender com
eufemismos e trocos idiotas que nada mais são do que tentativas honestas de se
manter são, salvo e longe dos truques baixos desse sentimento perverso. Ok, pra
não dizer que a partir de agora vou sair por aí conquistando pessoas para
torcer seus pescoços horas depois, eu até deixo esse tal de amor me pegar. Mas
tem que ser tranquilo, leve, sem cobranças, conselhos, dicas, tutoriais, vídeos
no YouTube, vapores baratos. Não precisa ser poético, musicável nem mesmo
cinematográfico. Tem que ser leve. Tem que ser prático. Inexplicável. Desde que
preserve minha alma e minhas pernas, eu topo.
Pensando
bem, vou continuar bebendo bastante água. Vai que surge uma ideia mais sensata
e menos ingênua, não é mesmo?
“... Que quem ama nessa vida, às
vezes ama sem querer... Que a dor no fundo esconde uma pontinha de prazer...”
(Christophe Cartier)
(Ouça Minha flor, meu bebê, Cazuza)
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