Vamos escrever uma história?
Seu nome pode ser Maria. Uma mulher forte, morena tropicana no melhor estilo Alceu Valença, taurina, talvez. Pode ter um nome diferente... Luíza, esse nome dá bossa, cê sabe. Luíza seria loira, nascida e criada na zona sul carioca, descendente de francês ou alemão, olhos claros, lábios invejáveis, garota de Ipanema, princesinha de Copa, nem passa pela cozinha. Também pode ser Amélia, essa mesma, sem a menor vaidade - mas ninguém nega, essa sim é mulher de verdade. Cláudia, alta executiva, workaholic, hipocondríaca, anestesiada. Pode ser Beatriz, aquele ser não identificado que Chico cantou... Pode ser Bruninha, Camilinha ou Nandinha, qualquer adolescente nanica virando mulher na base das porradas que a vida dá sem dó nem piedade, ou quem sabe dona Benta, vó Jacira, tia Anastácia, não importa a idade, o tamanho da bagagem, a atividade uterina... Nem o sexo importa. Pode ser homem. Victor, jovem bonito, sarado, deus grego, rato de academia. Luan, quinze anos, bigodinho crescendo, voz mudando, essas coisas. Rafael, dj, criatura que não para em casa e vive por aí, na vida, fingindo que vive - olha que ironia. Um pai de família, talvez... Quem sabe João ou Venâncio, um cara entediado, estressado, descontrolado... Ou mesmo um jovem de vinte e poucos anos cheio de sonhos, vontades e birra, um garotinho brincando de ser adulto. Pode ser Heitor, homem sofisticado, terno importado, um perfume que ninguém esquece. Um grisalho Alberto, um louco Danilo, um estranho Márcio, um lúdico Gabriel, um lúcido Antônio, um infeliz Francisco, um sincero Pedro, um vaidoso Ricardo, um perdido Felipe, um tal de Eustáquio.
Pode ser qualquer um. De qualquer sexo, signo, cidade, lugar do mundo. Do jeito que for. Não importa o fulano ou fulana: será um jardineiro. Isso, foco no jardim. A horta será a nossa protagonista. Sempre tão louca, desvairada, cheia de agrotóxicos, pragas e outras enfermidades, mas estranhamente viva, imortal. Florida, perfumada, a base da paisagem. Cultivada com afinco. Particular.
A horta das expectativas faz centenas de milhares de zilhões de paisagistas todo santo dia. Somos todos iguais neste jardim.
(Ouça Giz, Legião Urbana)
(Claude Monet)
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