quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

A morte lhe cai bem

Dia desses, uma YouTuber desafiou os anais da cultura popular e confundiu, num vídeo assistido por milhões (sem exagero), uma obra de Romero Britto com Picasso. Até agora não sei se a tal confusão foi “estratégia” do script ou falta de conhecimento mesmo – enfim, only God can judge us, já dizem as bios do Twitter. Mas o que mais me chamou atenção neste caso não foi o fato da menina não entender de artes – ora, ninguém é obrigado, e a galerinha do dã meio que me irrita um pouco.
O xis da questão foi justamente a força dessa simpática menina nas ruas sempre movimentadas da internet. Como todo YouTuber Star que se preze, a rapariga lançou um livro que, pelo visto, tem feito bastante sucesso por aí. Aliás, acho que devia ter uma matéria na escola sobre como ser um YouTuber. Sério! Digo isso sem ironias. É muito mais do que ter empatia com a câmera, apresentar um bom roteiro, ter um rostinho bonito. Há uma magia por trás de tudo isso – uma magia capaz de “orientar” (ou não) centenas de milhares de milhões de jovens.
Se você leu o título e acha que eu quero matar essas criaturas mais ricas e populares do que todos nós juntos... Não é bem assim.
Eu apenas estava refletindo sobre essa coisa chamada sucesso. Como é relativa, meu Deus! Um relatividade à prova de matemática e de sanidade mental. Até onde vale ter milhares de seguidores, ganhar rios de dinheiro com publicidade,  falar sobre uma vida que não te pertence, mas que todo mundo gosta de pensar que é real? Aí eu me flagro pensando nos mortos; de repente, minha cabeça vira um enorme cemitério. Penso naqueles que lutaram, batalharam, que deram suas vidas a uma força estranha relacionada a alguma arte: escrita, pintura, música, dança, teatro etc. Pessoas que não viram seus trabalhos “vingarem”, que não tinham propagandas para fazer nem redes sociais para se promoverem (por conta da época ou simplesmente por uma escolha), que realmente tinham o quê a mais. Hoje em dia, mortos, com suas lápides intactas na Wikipedia e aquela sensação de que não é preciso ser saudosista para entender de arte.
Quando decidi ser escritora, me flagrei pensando numa maneira de fazer sucesso sem cair no abismo do tédio. Encontrei apenas uma solução: morte. A morte cai bem a qualquer pessoa – e talvez seja a única forma de fazer com que prestemos atenção no que e em quem temos. Do que adianta traçar as melhores linhas sem publicidade, sem outdoor, sem tragédia? Foi aí que resolvi me afastar um pouco desse submundo que exige demais de mim. Então me surgiu a alcunha “blogueira”. De repente, eu estava procurando no Google a melhor forma de morrer. Risos.
Ah, sim, achei um meio-termo (ou devo dizer “paliativo”?). Isolamento total. Nada de shares, de snaps, de replys, whatever. Uma vida carpe diem, e eu espero que vocês saibam que isso é bem mais do que a tatuagem da moda de dois ou três anos atrás. Mas essa coisa de parnasiano também sempre me deu uma coceira chata; talvez eu não seja tão antissocial como às vezes penso.
Oh mundo, vasto mundo, por que tanta babaquice, tanta caretice, por que essa eterna falta do que falar?
Não sei. Vou procurar um tutorial no YouTube pra me sentir melhor.

(Ouça mais ninguém, Banda do Mar)



(Thelma Zambrano)